A nova Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) representa inflexão de como os brasileiros se veem no espelho dos indicadores sociais. Depois dela enxergamos detalhes nunca d"antes aqui observados em medidas clássicas de pobreza e desigualdade. O numerário pós-POF será consumo e não mais renda. Um ganho, pois as pessoas extraem bem-estar dos bens e serviços consumidos e não do dinheiro no seus bolsos.

A POF dá um retrato das mudanças de prazo longo desde a primeira de 1974/75. A POF anterior é de 2002/03 nos permite captar o período de ouro de a 2008/09 até 2008/09 fornecendo retrato de alta definição acerca das melhoras da vida dos brasileiros.

Em setembro, dois Prêmio Nobel, Amartya Sen e Joseph Stiglitz, apresentaram relatório sobre como medir o progresso das nações, resumido em quatro propostas centrais onde a POF permite saltos metodológicos, senão vejamos:

1) Usar menos o PIB e mais médias de pesquisas domiciliares. A renda familiar per capita, que é o que importa para o bem-estar, subiu entre as últimas POFs 21,7%.
2) Medir desigualdades. Segundo a POF a renda dos 10% + pobres sobe 42,1% e as dos 10% + Ricos 13,3%.
3) Avaliar a evolução das percepções das pessoas. A proporção de pessoas que consideravam sua alimentação insuficiente cai de 47,6% para 35%. A proporção de famílias que concordavam com o dito de Millôr Fernandes de que "o salário não permite chegar até o fim do mês" caiu de 85% para 75%. Indicadores subjetivos e objetivos concordam que os problemas sociais brasileiros são grandes mas melhoraram, o que nos leva a última prescrição.
4) Avaliar a sustentabilidade das trajetórias de crescimento através do estoque dos vários tipos de ativos sobre os quais a POF confere olhares mais precisos e profundos que as demais pesquisas tais como financeiros, duráveis, moradia e ambientais.

A acumulação de capital físico e humano, em particular pelos mais pobres, sugere persistência de ganhos. Esta é apenas uma pequena amostra da riqueza da POF que permite ir até onde outras pesquisas não foram. Parabéns ao IBGE!

Veículo: O Estado de S.Paulo