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03/05/2010 11:32 - Países turbinam suas embaixadas no Brasil

Mercado aquecido e projetos de infraestrutura fazem com que o país vire alvo da diplomacia das principais economias

 

Feiras de negócios, visitas de ministros e contratação de especialistas estão entre os exemplos do entusiasmo com o Brasil no pós-crise

 

Com grandes projetos de infraestrutura e estimativas favoráveis de crescimento, o Brasil se tornou alvo da atenção de algumas das principais economias do mundo.

 

O interesse em elevar as exportações para o país, estimular associações com empresas brasileiras, fazer e também atrair investimentos motivam países do G7 (grupo dos sete mais ricos) e emergentes a ampliar o número de diplomatas e de especialistas em comércio nas embaixadas brasileiras.

 

Exemplos desse entusiasmo com o Brasil são recorrentes no pós-crise. O Reino Unido, por exemplo, criou um setor de ciência e inovação em São Paulo e um de mudanças climáticas em Brasília. A Alemanha planeja instalar uma Casa da Ciência e Inovação na capital paulista.

 

O ministro de economia alemão acaba de vir ao país com executivos de 50 empresas. E os compromissos no país da ministra da economia francesa ficaram mais frequentes.

 

EUA, Alemanha e França (que juntos representam 35% do PIB global) recentemente divulgaram comunicados manifestando o desejo de aumentar o comércio com o Brasil.

 

O governo Obama informou, em fevereiro, que elevará o número de especialistas em comércio no Brasil, na China e na Índia para que "defendam e encontrem consumidores para as companhias dos EUA".

 

Segundo Abina Dann, cônsul-geral do Canadá em São Paulo, o Brasil ganha espaço nas relações comerciais. "Até agora, tínhamos mais experiência com China e Índia, mas o Brasil está esquentando." O Canadá abriu escritórios no Nordeste e no Sul para facilitar parcerias nessas regiões.

 

E o país deve quase dobrar, em relação a 2004, o número de especialistas e diplomatas até o ano que vem. Segundo Dann, a meta é não só incrementar importações e exportações, mas estimular joint ventures e fomentar investimentos.

 

Em 2008 (último dado disponível), especialmente por conta da brasileira Vale, os investimentos do país no Canadá já eram maiores que os canadenses no Brasil -US$ 12 bilhões ante US$ 9,2 bilhões.

 

O embaixador da Itália, Gherardo La Francesca, afirma que o país europeu está "redescobrindo" o Brasil. "O Brasil ganhou importância econômica e política.

 

Passou a ser um interlocutor muito interessante."

 

Segundo ele, um novo especialista em economia foi recrutado -sinal de prestígio do Brasil, diz. "A Itália está seguindo uma redução de gastos rigorosa.

 

Aqui, ao contrário de outras embaixadas, os funcionários não estão sendo reduzidos."

 

Em abril, o presidente Lula assinou acordo com a Itália para incrementar as parcerias em áreas como defesa e energia.

 

A embaixada francesa no Brasil também foi poupada da redução mundial de postos, afirmou Dominique Mauppin, chefe da missão econômica em São Paulo. Ele destaca que o investimento no Brasil ganha relevância na comparação com outros emergente. "Há um número maior de empresas francesas trabalhando na China, mas os investimentos franceses no Brasil estão maiores." Especialistas dizem que a estabilidade macroeconômica do país dá segurança ao investidor.

 

Para o secretário-adjunto de Comércio dos Estados Unidos, Suresh Kumar, que veio ao Brasil semana passada com cem empresas para promover negócios, a função do Estado seria como a de uma parteira, que auxilia o casal (no caso, as empresas dos dois países) a gerar frutos -ou seja, negócios.

 

Como outros dirigentes, Kumar destaca a importância da Olimpíada e da Copa. Alemanha, Coreia do Sul e Reino Unido dizem que suas empresas usarão a experiência em Mundiais para fazer negócios.

 

A Coreia do Sul mira projetos envolvendo o setor naval, o petrolífero e o de transporte. O país deve disputar o leilão do trem de alta velocidade.

 

O Japão também está interessado na área de infraestrutura. Segundo o consulado do Japão em São Paulo, o número de empresas japonesas no Brasil está crescendo rapidamente.

 

G7 tenta recuperar o mercado brasileiro, perdido para a China

 

Em 2001, 49% dos produtos comprados pelo Brasil no exterior vinham dos países do G7; em 2009, índice era 36%

 

A participação chinesa nas vendas para o Brasil cresceu 421% em nove anos e o país asiático saltou de nono para segundo maior fornecedor

 

Ao tomarem medidas para acelerar o comércio com o Brasil, os países ricos estão querendo reconquistar um mercado em que eles tinham quase 50% de participação no início desta década e que foi perdido principalmente para a China -repetindo, em grande parte, um fenômeno em âmbito mundial.

 

Em 2001, 49% das importações brasileiras provinham dos membros do G7, combinados. Esse percentual foi caindo ao longo do tempo e ficou em 36% no ano passado.

 

Enquanto isso, a fatia chinesa cresceu 421% nesse período e hoje significa 12,5% dos produtos que o Brasil compra do exterior. O país asiático, que era o nono mercado que mais vendia para o Brasil, agora é o segundo, atrás dos EUA.

 

No Brasil, ninguém do G7 perdeu mais espaço de 2001 para cá que os EUA. Apesar de ainda liderarem as exportações, eles perderam quase um terço da fatia que tinham no comércio com o Brasil.

 

Francisco Sanchez, subsecretário do Departamento de Comércio dos EUA, diz que o Brasil é visto como "prioritário" no plano do governo americano de dobrar as exportações em cinco anos.

 

O país que menos sofreu foi a Alemanha, que teve uma queda de 11% em participação. Para o embaixador alemão Wilfried Grolig, com o aumento da competição global nos últimos anos, a perda de espaço da principal economia europeia no comércio com o Brasil, de 9% para 8%, "é a história de maior sucesso que se pode contar".

 

As projeções para o Brasil também motivam esses países. O mercado interno nessas economias ainda está enfraquecido devido à crise global e expandir as exportações é uma forma de compensar isso.

 

Eduardo Giannetti da Fonseca, diretor-titular de Relações Internacionais e de Comércio Exterior da Fiesp, afirma que o país "vive um ataque, no sentido positivo, de interesse externo". Mas, para ele, a intenção de aumentar as exportações para o Brasil não exclui a possibilidade de que os países ricos e emergentes aumentem os investimentos aplicados aqui.

 

Ele destaca que o momento atual -especialistas demonstram preocupação com o aquecimento da economia- favorece as trocas comerciais do Brasil. "Se o governo está preocupado com excesso de demanda, é só importar mais. Não tem nenhum problema nisso. Mas, nesse caso, terá que criar mecanismos para exportar também e não criar um desequilíbrio, como já começou a acontecer."

 

Veículo: Folha de São Paulo

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