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09/04/2010 09:10 - Mesmo inadimplentes, 29% querem comprar mais

Pesquisa da Associação Comercial constata que aumentou o número de consumidores com dívidas em atraso que querem continuar adquirindo bens. O principal objeto de desejo é o automóvel, seguido pelos eletroeletrônicos

 

Mesmo com problemas para pagar as dívidas, boa parte dos consumidores pretende continuar a comprar a prazo e, principalmente, produtos mais caros que elevam consideravelmente o comprometimento da renda mensal.

 

De acordo com pesquisa sobre o perfil do inadimplente, feita semestralmente pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP), 29% daqueles com pendências financeiras pretendem comprar e pagar de forma parcelada nos próximos meses, e o produto mais desejado por eles é o automóvel.

 

“Muitos se tornam superendividados por essas práticas. A pessoa tem crédito em diversas lojas e acaba contraindo dívidas que vão além da capacidade de pagar. E isso não para”, diz Marcel Solimeo, economista da associação.

 

O estudo mostra que em 2009, a intenção de comprar dos endividados estava contida por causa da crise - 21% queriam voltar a comprar a prazo. No entanto, com a retomada de crédito, esse índice passou para 29%.

 

Solimeo explica que esses consumidores pretendem limpar o nome para assumir uma nova conta, mas isso não quer dizer que ele esteja com os problemas financeiros resolvidos. “A partir do momento que a pessoa renegocia a dívida, o nome sai da lista de inadimplentes. No entanto, ele poderá fazer uma compra e ainda ter a dívida antiga para pagar, comprometendo ainda mais a renda”, explica.

 

Para o professor de Finanças do Insper, Liao Yu Chieh, se a pessoa está inadimplente, a “bola de neve” já foi criada e novas compras só irão aumentar os problemas. “Muitas vezes, as pessoas não têm educação financeira para gerenciar suas próprias contas”, diz.

 

O economista da ACSP atribui o endividamento ao perfil financeiro do consumidor. O levantamento mostra que a maioria dos endividados tem renda mensal familiar de um a três salários mínimos (R$ 550 a R$ 1.530). “É uma classe de renda que passou a ter acesso a crédito mais recentemente. Esse público ainda não está acostumado a ter controle financeiro”, comenta o especialista.

 

Chieh também aponta o próprio comércio como culpado pelo aumentos das contas atrasadas. Segundo o professor, o investimento das empresas na classe C e D faz com que essa população passe a consumir produtos que antes não faziam parte do orçamento, comprometendo os ganhos da família. “O apelo para o consumo é muito grande”, afirma.

 

O professor das Trevisan Escola de Negócios, Alcides Leite, também acredita que o comércio poderia contribuir para diminuir o nível de calote. “Os lojistas poderiam ser mais criteriosos na hora de liberar o crédito. As entidades de consulta ao crédito podem colaborar nesse sentido. O aumento da inadimplência só prejudica o próprio comerciante”, diz.

 

Para aumentar esse critério das empresas em conceder crédito, a ACSP reivindica a aprovação no Congresso do Cadastro Positivo, que funcionaria como uma banco de dados único sobre os gastos do consumidor.

 

O levantamento ainda aponta um crescimento no volume de carnês com pagamento em atraso. Neste ano, o índice de consumidores que devem em dois carnês foi de 33%, ante 25% no ano passado e 22% no ano anterior. Em três carnês, os porcentual de endividados foi de 22%, contra 9% no ano passado e 21% no período anterior.

 

A principal causa da inadimplência ainda é o desemprego (38%), mas esse fator tem diminuído a sua influência no resultado da pesquisa - (42% em 2009 e 52% em 2008). O descontrole financeiro era de 13% há dois anos, caiu para 12% no ano passado, mas subiu para 14% em 2010.

 

Contudo, a inadimplência geral vem caindo. Dados da ACSP indicam que o número de registros de inadimplência retirados do Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) aumentou 8,1% na comparação com o primeiro bimestre de 2010, quando foram contabilizados 701.504 registros, e o mesmo período de 2009, com 648.692.

 

Quem é

 

Os dados da pesquisa da associação mostra que o inadimplente utiliza mais o carnê para realizar as compras (39%), que acaba ficando sem ser pago, pois o acesso é mais simples do que os meios bancários, como cheque e cartão de crédito. A idade predominante entre os que estão com as contas atrasadas é de 31 a 40 anos (38%), seguido pela faixa etária dos 21 a 30 (28%) e 41 a 50 (17%). A maioria são homens (55%).

 

Para sair do vermelho


Para quitar as dívidas em atraso, o consumidor pode tentar renegociar os débitos, estendendo o parcelamento para um valor mensal que ele poderá pagar

 

Se o juro for muito alto, especialistas em finanças pessoais aconselham que o inadimplente some o total da dívida, busque um empréstimo de taxas menores (crédito consignado é o mais indicado) e quite a dívida geral, ficando apenas com uma conta para pagar

 

Não é recomendado fazer nova compra, mesmo que o nome já esteja limpo. O ideal é não comprometer mais de 30% da renda mensal familiar com prestações, seja de compra de mercadorias, dívidas ou empréstimos

 

Antes de realizar a renegociação de dívida, é interessante o endividado fazer uma análise de suas finanças para saber em que está gastando. Assim ele saberá quais são os gastos essenciais, quais são os que podem ser cortados e quanto sobra para pagar as dívidas. No entanto, a recomendação de especialistas é também que haja um porcentual para investimento

 

Veículo: Jornal da Tarde
 

 

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