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23/03/2010 11:16 - Rombo da conta corrente bate recorde e BC amplia projeções

A conta corrente de fevereiro do setor externo brasileiro apresentou o maior déficit para o mês, com US$ 3,251 bilhões, desde que o Banco Central (BC) iniciou a série em 1947. A informação é do chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, que ao divulgar o resultado, também afirmou que a projeção do déficit em transações correntes em 2010 subiu de US$ 40 bilhões para US$ 49 bilhões. Ainda de acordo com ele, o Investimento Estrangeiro Direto (IED) de US$ 2,849 bilhões em fevereiro foi o mais elevado para o mês desde 1999 e a China entrou pela primeira vez na estatística do IED para o Brasil.

O fluxo de investimento estrangeiro direto para o Brasil em março até ontem é de US$ 1,1 bilhão. Para o fechamento do mês, Altamir prevê saldo de US$ 1,5 bilhão. Esse volume representa menos da metade os US$ 4 bilhões de déficit que ele projeta para a conta corrente em março.

Apesar do grande saldo negativo do mês, Altamir disse não ter nenhuma preocupação com a perspectiva de financiamento desse déficit, apesar de o BC prever que o IED não será suficiente para cobrir o déficit em conta corrente previsto para 2010, já que a projeção é de US$ 45 bilhões. Segundo ele, a diferença será coberta com os empréstimos de empresas no exterior e investimento de estrangeiros no Brasil em ações e renda fixa.

"A perspectiva é boa para a economia brasileira e isso atrai mais investimentos em ações e renda fixa", disse Altamir, lembrando que a busca de empréstimo no exterior por empresas brasileiras é um sinal positivo de que o mercado externo está aberto para companhias nacionais. Já para o professor da PUC-SP, Antônio Correa de Lacerda, a valorização do câmbio 15% acima do patamar do equilíbrio deve gerar saldo negativo de US$ 55 bilhões neste ano.

O aumento da projeção oficial do BC para o déficit em transações correntes em 2010 é resultado de uma expectativa de menor superávit comercial neste ano, cuja projeção de saldo positivo caiu de US$ 15 bilhões para US$ 10 bilhões. Essa menor contribuição do comércio exterior é esperada porque as importações devem crescer mais rápido que o previsto, já que a estimativa de compras de produtos do exterior para o Brasil subiu de US$ 155 bilhões para US$ 163 bilhões. Ao mesmo tempo, a estimativa para as exportações brasileiras em 2010 cresceu em ritmo menor, passando de US$ 170 bilhões para US$ 173 bilhões.

O professor do Mackenzie, Francisco Cassano, acredita que o déficit das transações correntes (soma do resultado da balança comercial brasileira além de serviços importados e exportados e as rendas obtidas no exterior por brasileiros ou no Brasil por estrangeiros) preocupa se levado em conta o fechamento da balança comercial brasileira. "A previsão para a balança é bastante pessimista, já que as importações tendem a crescer e as exportações não avançam. Além do câmbio que favorece a o turismo no exterior e as importações", diz.

 

Cassano comenta que dentre os prejuízos resultantes do cenário atual, destacam-se a falta de competitividade internacional além da dificuldade em conquistar mercados perdidos pelos concorrentes. "Por outro lado, o endividamento público cresce o que limita que os investimentos estrangeiros permaneçam aqui [Brasil]. Há atração de investimentos, exemplo disso é a China, mas dificilmente os lucros obtidos serão reinvestidos."

 

China

 

Os investimentos chineses no Brasil, que somaram US$ 354 milhões, foram responsáveis pela entrada do país pela primeira vez nas contas do IED do mês passado. Esses foram direcionados para a indústria extrativa mineral, mais especificamente para a exploração de minerais metálicos voltados para a exportação.

 

O investimento da China, segundo Altamir, e outros voltados para o setor exportador trazem uma boa perspectiva para o desempenho futuro das vendas externas do País, o que vai ajudar no longo prazo a conter o déficit em conta corrente.

 

Para o professor das Faculdades Integradas Rio Branco, Alexandre Uehara, as empresas chinesas estão abertas à internacionalização e buscam investir na aquisição de empresas brasileiras, como deve ser o caso. "É que o Brasil deveria fazer para ganhar musculatura no mercado internacional", aconselha Uehara.

 

No acumulado do primeiro bimestre, o ingresso de investimentos produtivos atingiu US$ 3,639 bilhões e, nos 12 meses encerrados em fevereiro, US$ 25,689 bilhões (1,52% do Produto Interno Bruto-PIB). Os investimentos brasileiros diretos no exterior registraram aplicações líquidas de US$ 4,2 bilhões.

 

De acordo com Altamir, o investimento estrangeiro em ações brasileiras somou US$ 842 milhões em março até ontem. A maioria dos recursos foi atraída pelos papéis de empresas brasileiras, responsáveis pela entrada de US$ 819 milhões. Os títulos de renda fixa atraíram US$ 1,516 bilhão no mesmo período.

 

Ao mesmo tempo em que tenta melhorar o seu superávit primário interno, o governo brasileiro começa a ter problemas com suas contas externas. De acordo com o Banco Central, o déficit em transações correntes no mês passado foi de US$ 3,251 bilhões, o maior em um mês de fevereiro desde que o Banco Central (BC) iniciou a série, em 1947.

 

O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, afirmou que a projeção do déficit em transações correntes para 2010 subiu de US$ 40 bilhões para US$ 49 bilhões. Por outro lado, a projeção para investimento estrangeiro direto (IED) no Brasil é de US$ 45 bilhões este ano. Assim, o País ficaria com um déficit total de US$ 4 bilhões nas contas externas ao fim de 2010. O IED em fevereiro foi de US$ 2,849 bilhões.

 

Lopes afirma, no entanto, que espera uma melhora do fluxo de investimentos no mercado de capitais, além de um aumento do volume de empréstimos feitos por empresas brasileiras no exterior e das próprias reservas em dólar acumuladas pelo Bacen. Uma valorização do dólar pode agravar a situação das contas externas. Ontem, a moeda norte-americana teve uma leve alta -de 0,06%- em relação ao real, e fechou em R$ 1,80 pela primeira vez em março.

 

Essa situação, além de um risco de aceleração da inflação, pode mudar os planos do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Ele deverá anunciar até o dia 31 de março (quarta-feira da próxima semana) se vai se desligar do Banco Central para disputar as eleições. "Achamos que o Meirelles não sairá do cargo. Caso ele se desligue, poderá gerar uma volatilidade, mesmo sem mudanças bruscas na economia", disse Bernardo Wjuniski, da Tendências Consultoria.

 

Veículo: DCI

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