Pelo segundo ano consecutivo, em 2009 o dinheiro do trabalhador depositado no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) perdeu poder de compra. As contas do fundo tiveram remuneração de 3,9% no ano passado, enquanto a inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegou a 4,3%, ou seja, 0,4 ponto percentual menor que o aumento dos preços. O vice-presidente de fundos da Caixa Econômica Federal, Wellington Moreira Franco, diz que a perda de rendimento é consequência da queda dos juros no País.

Por lei, os depósitos do FGTS têm rendimento de 3% ao ano mais Taxa Referencial (TR). A TR é calculada com base na média dos juros cobrados pelos bancos nos Certificados de Depósitos Bancários (CDBs). Esses papéis seguem os juros praticados no mercado, que sofrem influência da taxa básica (Selic), hoje em seu menor nível da história (8,75% ao ano). Assim, se a Selic cai, a TR também cai e, por consequência, a rentabilidade do FGTS.

"Todas as aplicações de renda fixa tiveram a menor rentabilidade da história no ano passado, inclusive a Selic", ponderou o vice-presidente de Recursos de Terceiros da Caixa, Bolivar Tarragó. "A remuneração mais baixa é conjuntural", acrescenta Moreira Franco. Ele ressalta que, no longo prazo, a correção do FGTS supera a inflação.

Números apresentados pela Caixa mostram que, desde junho de 1993, o FGTS acumulou até o ano passado rendimento de 27.610,5%, enquanto a inflação ficou em 22.810,2%. Em 2008, o fundo rendeu 4,5% e o IPCA bateu em 5,9%. Isso significa que houve perda real de 1,4% no saldo. No ano passado, a taxa de remuneração nominal do FGTS (3,9%) foi a menor desde 1993, quando entrou em vigor a atual forma de cálculo. Não foram as primeiras vezes que o FGTS rendeu menos que a inflação. Em 2002, por exemplo, o rendimento foi de 5,7%, para um IPCA de 12,5%.

No ano passado, o FGTS registrou recorde na arrecadação bruta anual, com R$ 54 bilhões, o que representa crescimento de 12,4% na comparação com 2008. O volume de saques e o valor de arrecadação líquida também foram recordes, com números respectivamente de R$ 47,8 bilhões (12,1% de crescimento) e R$ 6,95 bilhões, aumento de 15,2%.

De acordo com a Caixa, no ano passado foram desembolsados R$ 14,5 bilhões do Fundo de Investimento do FGTS (FI-FGTS). O ativo total do FGTS no fim de 2009 era de R$ 2,35 bilhões. Segundo Moreira Franco, os recursos disponíveis do FGTS para contratações em 2010 somam R$ 56,2 bilhões. Desse total, R$ 18 bilhões irão para habitação e R$ 8 bilhões, para infraestrutura.

Veículo: Jornal do Commercio - RJ