Carnes / Peixes
27/11/2019 11:59 - Preço da carne assusta os consumidores de Brasília
A alta no preço da carne bovina em todo o Brasil já é uma realidade também no Distrito Federal. Os mercados do DF registram preços elevados nas últimas semanas da carne de boi e os consumidores já sentem o impacto do aumento no bolso. O motivo é a grande demanda chinesa pelo produto brasileiro.
Conforme aponta o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as carnes em geral subiram 3,08% em novembro. Mas o contra-filé, por exemplo, subiu no DF 10,76% no período entre 23 de outubro e 22 de novembro, de acordo com Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), divulgado pela Fundação Getúlio Vargas.
Segundo o professor de Economia da Universidade de Brasília, Roberto Bocaccio Piscitelli, o aumento do preço da carne no Brasil é resultado de fatores internos e externos. “O Brasil é um grande produtor e exportador de carne e houve um aumento do consumo desse produto na China e nos Emirados Árabes, gerando uma maior demanda pela carne e consequente aumento das exportações”, explica. Além disso, a China foi atacada pela peste suína, que fez o país concentrar o consumo ainda mais na carne de boi”, completa Piscitelli.
Incentivo às exportações
O professor ainda pontua que registrou-se uma redução na produção da carne bovina em outros países que concorrem no mercado internacional com a carne brasileira. “A Austrália, por exemplo, passou por problemas climáticos de secas e inundações que afetaram a produção e exportação da carne. O mercado passou, então, a demandar mais do Brasil”, afirma.
De acordo com ele, ainda deve-se levar em conta o incentivo à exportação no Brasil. “É preciso considerar ainda que, no Brasil, há uma preferência para exportar o produto e aproveitar a condição dos preços internacionais, principalmente com a alta recente do dólar”, explicou. “Não há mecanismos reguladores no Brasil para contingenciar a exportação”, completa.
Em um supermercado de Águas Claras, o preço do contra-filé assustou clientes: R$ 35,99 . O gerente de um outro supermercado, no Sudoeste, conta que na loja não são eles que estabelecem os preços, que são tabelados pela franquia. “O preço da carne tem aumentado, sim, por conta da exportação. A exportação está batendo na gente”, afirma o gerente.
A solução encontrada pelo estabelecimento é fazer promoções sempre que possível para as carnes. “Ainda não há uma desistência do consumidor em relação à carne, mas a tendência agora será essa. As pessoas deixarão de consumir carne bovina com frequência e passarão a comprar carnes suínas, de aves e também ovos”, disse o gerente.
Um festival de queixas
Para o consumidor Herton Luis, de 50 anos, o aumento da carne foi uma surpresa. “Vim ao supermercado comprar carne moída, coxão mole ou patinho e normalmente não é esse preço. Recentemente os preços aumentaram consideravelmente”, conta ele, na saída de um estabelecimento do Sudoeste.
Cláudia Moreira, de 54 anos, concorda que o aumento aconteceu rapidamente. “Realmente os preços subiram de um jeito desproporcional. É bem difícil, porque a gente vem comprar a carne uma vez na semana e o preço está alto. E isso já acontece há um tempo”, lamenta ela.
De acordo com Guilherme Moreira, coordenador de índice de preços da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), da Universidade de São Paulo, os valores continuarão a subir até o início de 2020.”O aumento da carne neste ano foi pequeno, abaixo da inflação. As carnes começaram a aumentar agora”, diz.
Para o especialista, o aumento dos preços é normal por causa das festas de fim de ano, mas a alta extrapola os valores para a época.”O que pode justificar esses valores é uma combinação de entressafra e exportações fora do padrão”, diz Moreira.
Segundo dados da Associação Brasileira de Frigroríficos (Abrafrigo), em outubro de 2019, a exportação de carne bovina brasileira cresceu 15% em comparação ao mesmo mês do ano passado e arrecadou 30% a mais.
Para driblar o alto preço da carne, o professor Roberto Bocaccio Piscitelli sugere diversificar o consumo. “Comprar outros produtos é o melhor remédio para diminuir o preço da carne. Quando o consumidor passa a comprar menos, a pressão sobre o produto aumenta e o preço, consequentemente, cai. É essencial que os consumidores busquem substitutos. Não é uma coisa muito absurda. Ninguém vai morrer se não consumir carne de gado”, afirma.
Segundo ele, além das exportações, as festas e confraternizações de fim de ano que se aproximam também interferem no preço da carne. “É tradicional fazer o churrasquinho de fim de ano no Brasil e o mercado interno reflete isso”, explica.
Fonte: Jornal de Brasília
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