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26/08/2014 12:58 - Aumento no consumo mundial de carne abre oportunidades ao Brasil

Demanda por proteína animal irá crescer em ritmo maior na próxima década, mantendo preços firmes e beneficando produtores

 

Líder mundial na exportação de carne, o Brasil é um dos principais países credenciados a saciar o apetite por proteína animal de mercados asiáticos e africanos na próxima década. O crescimento da população em centros urbanos, aliado ao aumento de renda dos trabalhadores, fará com que a demanda por aves, bovinos, suínos e ovinos cresça em ritmo maior do que a por produtos agrícolas, de agora até 2023, segundo relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

 

Com grandes áreas de terras e recursos hídricos, a agropecuária brasileira tem potencial e tecnologia para fornecer boa parte da produção adicional necessária para atender a mercados que passaram a buscar uma alimentação mais nobre, após melhorarem de vida.

 

—  O índice de insegurança alimentar no mundo vem diminuindo a cada ano, com milhões de pessoas saindo da linha da pobreza e passando a consumir carne, leite, ovos e derivados —  ressalta Gustavo Chianca, representante assistente da FAO no Brasil.

 

Conforme o relatório Perspectivas Agrícolas 2014-2023, divulgado no mês passado em Roma, 75% da produção agropecuária adicional a ser consumida no mundo será suprida por países da Ásia e da América Latina. Maior exportador de carne bovina e de aves, o Brasil é a menina dos olhos dos compradores internacionais.

 

—  O Brasil está muito bem posicionado. E aproveitar a oportunidade significa aumentar a produtividade e também mostrar ao mundo uma produção sustentável —  avalia Chianca.

 

A procura mundial por carnes irá sustentar preços firmes no mundo, com possibilidade de chegar a níveis recordes. Mercados produtores, como o Rio Grande do Sul, serão beneficiados com esse aumento de consumo. No ano passado, as exportações brasileiras de aves, bovinos e suínos somaram mais de US$ 16,5 bilhões.

 

—  A Região Sul é o celeiro da proteína animal no país —  destaca Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal.

 

Na pecuária de corte, ainda com volumes pequenos destinados à exportação, o Rio Grande do Sul tem na genética e na qualidade da carne trunfos para se beneficiar. Nesta semana, a agropecuária gaúcha ganha evidência com o início da 37ª Expointer, uma das principais feiras do setor. O evento, no parque Assis Brasil, em Esteio, começa no próximo sábado, atraindo olhares de dentro e fora do país.

 

—  Para aumentar a produção de carne será necessária maior quantidade de grãos e, consequentemente, mais insumos. É um eixo de crescimento e desenvolvimento que poderemos aproveitar —  avalia Antônio da Luz, economista da Federação da Agricultura do Estado.

 

 

Frango estará no topo do consumo até 2023

 

 

Em 10 anos, as aves devem desbancar os suínos e se tornar a carne mais consumida no mundo, conforme estimativa da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Com 1,6 milhão de toneladas por ano, o Rio Grande do Sul é o terceiro maior produtor do país - com 15% do volume. Atrás do Paraná e de Santa Catarina, nessa ordem, o Estado perdeu a liderança na última década em razão da insuficiência na produção de milho

.

—  A falta do suprimento impede o avanço mais dinâmico da atividade. O Paraná tem milho abundante na porta de casa —  compara José Eduardo dos Santos, diretor-executivo da Associação Gaúcha da Avicultura (Asgav).

 

Para alimentar a produção gaúcha de suínos e de frangos, é preciso importar pelo menos 2 milhões de toneladas do grão de outros Estados. A safra gaúcha é de pouco mais de 5 milhões de toneladas. Os principais produtores do grão são Mato Grosso e Paraná.

 

Com um sistema de sanidade avícola e biossegurança respeitado no mundo todo, o Brasil vende carne de frango para 155 países —  com destaque para Arábia Saudita, União Europeia, Japão e Hong Kong. A carne suína é exportada para cerca de 70 países, com Rússia e Hong Kong como principais destinos. Com 10 frigoríficos de aves habilitados à exportação, o Rio Grande do Sul responde por 18% dos embarques nacionais.

 

Produtor de frangos em Nova Bréscia, Marcos Senter, 48 anos, quase dobrou a capacidade de produção desde o ano passado. Até então com três aviários convencionais, investiu R$ 600 mil em uma estrutura com sistema "dark house" (casa escura, em inglês).

 

—  A tecnologia diminuiu o tempo de abate, com engorda mais rápida. Os custos com mão de obra também caem — explica o produtor, que trabalha com ajuda da mulher, Andreia, 40 anos, e dos filhos Marcelo, 19 anos, e Marciano, 17 anos.

 

O novo aviário fez a Granja Senter saltar de 60 mil aves por lote para 109 mil unidades. Os animais com 1,5 quilo e 30 dias de vida são entregues à BRF de Lajeado e destinados ao mercado externo, que prefere frangos menores.

 

—  Agora tenho 15 frangos por metro quadrado. Antes eram no máximo 12 — conta Senter, que trabalha para exportação há 10 anos, quando passou a investir na granja.

 

 

Produtividade da pecuária de corte é um desafio para o Estado

 

 

Com um rebanho bovino de 208 milhões de cabeças, o dobro dos Estados Unidos, o Brasil tem produção menor do que os americanos. O dado é suficiente para quantificar o quanto é possível aumentar a eficiência da pecuária brasileira, maior exportadora de carne de gado do mundo. Além de produzir mais por hectare, o país ainda precisa que o seu sistema sanitário ganhe confiança em mercados mais exigentes. Das 9 milhões de toneladas de carne produzidas por ano, o Brasil exporta menos de 20% desse volume para mais de 170 destinos.

 

— Tivemos evolução na questão sanitária, mas ainda estamos fora de grandes mercados — destaca Fernando Sampaio, diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec).

 

A Europa, por exemplo, exige rastreabilidade individual do rebanho. No Brasil, o índice de animais rastreados é inferior a 1%. Outra ponto a avançar, conforme Sampaio, são os acordos comerciais para exportação, que dependem de articulações do Mercosul.

 

Com predomínio de raças britânicas no campo, o rebanho gaúcho é desfavorecido quando o assunto é volume de produção. O rebanho bovino no Rio Grande do Sul é de cerca de 13 milhões de cabeças.

 

— Há anos não aumentamos nosso rebanho, que vem perdendo cada vez mais espaço para os grãos. Por isso, a saída é aumentar a produtividade — ressalta Gedeão Pereira, vice-presidente da Federação da Agricultura no Rio Grande do Sul (Farsul).

 

Pecuarista em Aceguá, na fronteira com o Uruguai, Ronaldo Jacintho Cantão, 55 anos, dobrou a produtividade em 15 anos ao investir em pastagens adubadas, na definição de raça e no manejo adequado. De lá para cá, a produção de 80 quilos por hectare saltou para 166 quilos por hectare. A média no Rio Grande do Sul é de 70 quilos por hectare.

 

— Não é um trabalho que se faz de um dia para o outro. Comecei com 15 hectares de pastagem adubada e hoje são mais de 500 hectares — explica o pecuarista, que administra a Estância Formosa ao lado dos irmãos Flávio, 60 anos, e Aloísio, 42 anos.

 

Há 10 anos, os irmãos investiram em rastreabilidade e hoje têm todo o rebanho angus de 1,7 mil cabeças voltado à cria, recria e terminação identificado. A produção é vendida para frigoríficos exportadores que oferecem até 8% a mais pelos animais.

 

— A rastreabilidade é um coringa, ajuda na valorização do produto e na gestão da propriedade — acrescenta Cantão.

 

Veículo: Zero Hora - RS

 

 

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