Carnes / Peixes
22/08/2014 12:08 - Argentina volta a bloquear embarque de carne bovina
Marli Olmos e Luiz Henrique Mendes
Em mais uma tentativa de conter os aumentos de preços no mercado interno, o governo argentino restringirá as exportações de carne bovina nos próximos 15 dias. A medida pode afetar a brasileira Marfrig, que mantém duas unidades de abate em operação no país.
Paradoxalmente, o governo busca novos negócios no exterior. Enquanto a Secretaria de Comércio anunciava as restrições aos produtores, uma equipe dos Ministérios da Indústria e Agricultura foi até Moscou esta semana para tentar convencer os russos a comprar mais produtos argentinos, inclusive carne.
A nova restrição deverá frustrar as expectativas dos frigoríficos brasileiros. Na semana passada, o CEO da Marfrig, Sergio Rial, havia demonstrado otimismo em relação ao desempenho da operação argentina, apesar de a situação econômica ter ficado mais delicada depois que o país entrou em "default". Na ocasião, ele disse que a Argentina poderia se tornar "uma alavanca para a empresa se o governo decidisse suspender os impostos nas exportações".
Questionada sobre as restrições adotadas esta semana, a Marfrig não comentou. A medida não deverá afetar, porém, a também brasileira JBS, cuja operação argentina é voltada ao mercado local.
Para a Sociedade Rural Argentina, que representa os produtores, a medida é "autoritária" e "irracional". "A irracionalidade dessa gestão [do governo] chega a limites incompreensíveis", destacou a entidade, por meio de comunicado. Por conta das restrições às exportações que, lembra a Sociedade, repetem-se desde 2006, 16 mil produtores encerraram as atividade no país.
O ministro-chefe de gabinete, Jorge Capitanich, lembrou que somente neste ano os preços da carne bovina subiram 54%. "Por isso as medidas foram tomadas", disse.
Em meio ao conflito na Ucrânia, Brasil e Argentina podem se beneficiar das sanções aplicadas pelo governo da Rússia às importações dos Estados Unidos e Europa. Em Moscou, a ministra da Indústria, Débora Giorgi informou às autoridades russas que a Argentina, quinto produtor mundial de alimentos, tem capacidade para alimentar 400 milhões de pessoas.
Numa análise da balança comercial do país, os economistas Ricardo Carciofi e Adrián Ramos, da consultoria Econometrica, lembram que a situação atual contrasta com o passado. Para eles, houve "excesso de acomodação no setor externo" que, por sucessivos anos ajudou no crescimento econômico argentino".
Veículo: Valor Econômico
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