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18/08/2014 09:53 - Embargo russo e volta da China animam pecuaristas brasileiros

                         São boas expectativas para os pecuaristas brasileiros, que apostam em valorização


Luciane Evans


O que já era bom pode ficar ainda melhor. Essa é a máxima que começa a fazer mais sentido para o mercado nacional de produção de carne bovina, suína e de aves. O Brasil acaba de ter as janelas escancaradas para novos mercados: Rússia e China. Em julho, o país oriental anunciou o fim do embargo às exportações brasileiras. Desde 2012, os chineses haviam suspendido as compras do produto brasileiro por causa da descoberta de um caso atípico de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB) no Paraná. Com a reabertura, a expectativa é de que haja um rendimento de US$1 bilhão a mais nas exportações de carnes brasileiras. Somado a isso, este mês a Rússia anunciou embargo à importação de produtos agropecuários e alimentícios de Estados Unidos, Canadá, União Europeia, Austrália e Noruega, abrindo, assim, “uma grande janela para o Brasil”, conforme apostam produtores e especialistas do setor.

Na semana passada, o ministro da Agricultura da Rússia, Nikolai Fyodorov, reconheceu que cerca de 100 novos produtores de alimentos do Brasil obtiveram permissão do governo para exportar aos russos. A medida é considerada uma “revolução” para o setor de carnes, uma vez que o país deve ganhar ainda mais importância no mercado russo após os embargos aos Estados Unidos.

Mesmo antes dessa abertura, o mercado russo já vinha mostrando a sua força para o Brasil. Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), as exportações brasileiras de carne bovina cresceram 19,35% em julho em comparação ao ano passando, subindo de US$ 579,8 milhões em 2013 para US$ 691,9 milhões neste ano. Em volume, foram 144,7 mil toneladas em julho de 2014 contra 133,2 mil toneladas no mesmo período do ano passado, um incremento de 8,64%. Mas o destaque do período está com a Rússia, maior comprador em julho e o segundo maior importador do produto brasileiro no acumulado do ano. Este mercado registrou um aumento de 113% em faturamento em relação ao mesmo mês de 2013, com US$ 181 milhões de carne bovina comercializada, contra US$ 85,1 milhões; e de 78,9% de incremento em volume, com 41 mil toneladas, ante 23 mil toneladas em 2013.

   
“A Rússia era um grande comprador do Brasil, só perdeu para a China (veja quadro), porque a demanda por carne aumentou por lá. Os russos são bons parceiros comerciais, pagam em dia e são um dos melhores que temos. Tínhamos uma média de exportação de 20 mil a 25 mil toneladas por mês para lá. Somente em julho, chegamos às 41 mil toneladas”, comenta o diretor-executivo da Abiec, Fernando Sampaio. Segundo ele, trata-se de um parceiro extremamente rigoroso, principalmente com a qualidade das mercadorias. “Os russos são muito criteriosos. Sempre há notícias de que uma indústria recebeu um embargo por não ter cumprido determinada norma”, diz.

Sobre a China, ele afirma que Hong Kong, outro bom comprador de carne do Brasil, é um polo exportador, distribuindo o produto para a região. “É um reflexo do consumo asiático, que deve crescer muito. Há uma expansão da população e da renda, o que reflete na demanda por carne. Com o fim do embargo, vão habilitar mais indústrias e a China se tornará um mercado estratégico para garantir nossas exportações no futuro”, observa Fernando, que diz ainda não ser possível estimar os impactos dessas aberturas. “O que exportamos no país corresponde a menos de 20% da produção. O mercado interno é mais expressivo”, compara.

INSTÁVEL

Apesar das boas expectativas, o pecuarista André Bartocci acredita que é preciso ter cautela com o assunto, principalmente em relação à Rússia. Fornecedor de carnes bovinas para o mercado europeu, ele diz que para ser habilitado há uma série de requisitos voltados para as propriedades, como o cumprimento de leis trabalhistas e a rastreabilidade dos animais. “Cerca de 80% do nosso mercado é interno. A Rússia é um mercado complexo, prova disso é que, quando não precisavam dos nossos serviços, não habilitavam novos frigoríficos para a exportação. Porém, com a crise na Ucrânia e a retaliação aos Estados Unidos e à União Europeia, eles passaram a habilitar nossas plantas. Da mesma forma que eles abriram essa janela, a qualquer momento podem fechar”, critica.

Mesmo considerando a Rússia calculista e instável, André vê que o momento poderá trazer bons impactos, principalmente para o preço da carne. “O frango, por exemplo, terá uma abertura enorme e poderá ser voltado totalmente para a Rússia. Se essa carne branca ‘sumir’ do mercado interno, a bovina será mais procurada e, consequentemente, ficará mais cara.” Na avaliação do pecuarista, o cenário atual pode ser um pulo para um antigo sonho: as janelas dos Estados Unidos. “Ainda não chegamos lá com muita força por falta de diplomacia brasileira, além do que, produtores americanos não têm muito interesse nisso”, observa.



Veículo: Estado de Minas

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