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29/05/2014 12:00 - Marfrig recupera fôlego e sobe 25% na bolsa

Castigada pelo investidor nos últimos anos, a Marfrig vive um momento diferente - e positivo - em 2014. A mudança é reflexo da reestruturação financeira e operacional em curso na companhia, o que recobrou a confiança do acionista e levou os papéis da Marfrig a subirem mais de 25% na BM&FBovespa ao longo deste ano. Mas, com um endividamento ainda bastante elevado, a empresa tem clareza do que precisará ser feito para que volte a lucrar de modo consistente.

Em entrevista ao Valor, o CEO da Marfrig, Sergio Rial, revelou que, para voltar ao azul e conseguir distribuir dividendos, o custo médio da dívida da empresa teria de cair abaixo de 7% ao ano, o que resultaria numa economia de cerca de US$ 68 milhões em juros por ano nos próximos cinco ou seis anos. Trazidos a valor presente, essa economia seria de cerca de US$ 300 milhões, segundo ele.

"Acho que abaixo de 7% você já passa a ter um custo de dívida compatível com o nosso modelo de negócio e compatível com a geração de lucro. Estamos trabalhando para isso", afirmou Rial. No fim do primeiro trimestre, o custo médio do da dívida da empresa era de 7,9% ao ano. "O custo da dívida da Marfrig ainda está caro", disse o executivo.

Apesar de reconhecer que há "muito trabalho" a ser feito para conseguir essa redução do custo da dívida, Rial indicou que algumas medidas nesse sentido estão a caminho. Entre elas, está uma nova captação externa ainda no segundo trimestre. Considerada fundamental no processo de recuperação da Marfrig, a subsidiária britânica Moy Park já estará apta a abrir o capital na bolsa de Londres no segundo semestre, afirmou Rial.

"Se nós decidirmos fazer o IPO da Moy Park, o segundo semestre é um período absolutamente factível", declarou. No mercado, analistas acreditam que a Marfrig vai mesmo fazer o IPO da subsidiária britânica no segundo semestre.

Num sinal de que a Marfrig pretende realmente prosseguir com o IPO da Moy Park, a empresa contratou um novo diretor financeiro para a subsidiária. "Contratamos um novo CFO que traz uma experiência de empresa pública [listada na bolsa de Londres]", informou Rial. O executivo é Barry McGrane, que atuou por 20 anos como diretor financeiro da irlandesa United Drug, empresa do setor de farmacêutico que faturou mais de 2 bilhões de libras no ano passado.

Conforme o CEO da Marfrig, a recente emissão de notes feita pela Moy Park, que levantou 200 milhões de libras num título com vencimento em sete anos, demonstra que os investidores começam a "se dar conta" que o valor da Marfrig é maior do que o mercado "havia entendido". Nesse sentido, a nota de crédito dada pela Standard & Poor's à emissão da Moy Park é um exemplo, disse Rial. Segundo ele, o rating da Moy Park está duas notas à frente do próprio rating da Marfrig.

Sérgio Rial assegurou, no entanto, que o possível IPO da Moy Park não será feito a qualquer custo. "Você teria que buscar um múltiplo [relação entre o enterprise value e Ebitda] que seja superior ao da Marfrig, porque aí estará acrescentando valor ao acionista", afirmou. Atualmente, segundo Rial, o múltiplo da Marfrig está próximo de 7 vezes.

Operacionalmente, o cenário é favorável para a Moy Park, por conta do forte aumento do consumo de carne de frango no Reino Unido em meio à menor competitividade da concorrente carne bovina. Hoje, a Moy Park tem 25% dos abates de frango do Reino Unido.

No primeiro trimestre, a Moy Park registrou uma margem Ebitda de 7,2%. Trata-se da melhor margem da história e, de acordo com Rial, esse nível é "absolutamente sustentável". A Moy Park foi responsável por 23% do faturamento da Marfrig no primeiro trimestre. No período, a subsidiária teve receita líquida de R$ 1,321 bilhão, alta de 27% na comparação com o mesmo período de 2013. Já a receita líquida da Marfrig como um todo foi de R$ 4,8 bilhões. A Marfrig tem como "guidance" atingir receita líquida de R$ 21 bilhões e R$ 23 bilhões em 2014.

Rial negou, porém, que o IPO da Moy Park seja essencial para levar o custo da dívida da empresa aos patamares desejados. "O IPO não é necessário para isso. É o conjunto de ações coerentes que levará [a essa redução de custo]", disse. Como exemplo, ele citou o atual retorno dos bonds da empresa no mercado secundário, que giram em torno de 7,5% ao ano, conforme informou. Isso abre espaço para a empresa levantar mais recursos no exterior e quitar dívidas mais caras.

Com esse objetivo, o CEO da Marfrig indicou que está trabalhando em novas captações ainda neste segundo trimestre. "No segundo trimestre, você ainda vai ver alguma coisa acontecendo em termos de redução adicional de despesa financeira. Trabalhamos nisso. A gente vai ver o que consegue fazer para apertar mais esse preço e pagar dívida mais cara", afirmou.

Segundo o executivo, o processo de melhoria da estrutura de capital da Marfrig não é "panaceia", e a empresa não pode descuidar do lado operacional. "Reduzir custo da dívida não é panaceia para substituir performance", reforçou.

Na área operacional, a Marfrig continua avaliando a construção de uma fábrica de alimentos processados no Oriente Médio para a subsidiária Keystone, e novidades só devem ser anunciadas no terceiro trimestre. Para a Keystone, disse Rial, o IPO não é "iminente".



Veículo: Valor Econômico

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