Carnes / Peixes
15/04/2013 08:06 - Demanda interna e sanção reduzem preço dos suínos
Os produtores e a indústria de suínos do Brasil tiveram um mês de março pouco animador. Com a sanção da Ucrânia à carne brasileira, que reduziu as exportações do mês, e o desaquecimento do mercado interno, foi observado recuo tanto nos preços ao produtor como no varejo.
Nos últimos 20 dias, o preço do leitão vivo que o suinocultor Francisco Canossa, de Seara, Santa Catarina (SC), que produz 1,4 mil leitões por mês, passou de R$ 2,80 para R$ 2,50, uma queda de 10,7%. Em São Paulo, os produtores receberam nesta semana R$ 53 pela arroba do animal terminado, o menor valor desde o início de setembro de 2012. Em relação à semana anterior, quando era negociado por R$ 57, o recuo foi de 7%.
Os consumidores também pagaram menos pela carne de porco no varejo. De acordo com dados do Índice de Preços ao Consumidor (IPCA), levantado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o preço da carne suína caiu 1,01% em março, embora a alta acumulada no ano (2,19%) supere o crescimento da inflação do período (1,94%).
A sanção estabelecida pela Ucrânia a partir do último dia 20 é o fator principal apontado pelos produtores e pela indústria de carnes para a redução na demanda externa do suíno brasileiro, que refletiu também na forte queda de 17,87% das exportações do mês. Canossa diz que ainda não sabe dizer o impacto direto da restrição ucraniana em seu faturamento, "mas estamos pagando caro com a suspensão", reclama.
Segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Rui Vargas, apesar de a restrição ter sido estabelecida apenas na segunda metade de março, as empresas ucranianas vinham reduzindo as compras desde o começo do mês porque já estavam avisadas da sanção.
"A Ucrânia foi a grande vedete nesse movimento porque ela cortou [a compra de todo] o Brasil e, como era o país que mais comprava, deu um choque bastante forte, o que puxou para baixo o preço do porco", confirma o presidente da Coopercental Aurora, Mário Lanznaster.
O diretor-executivo da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), Fabiano Coser, aponta também para o desaquecimento no mercado interno em março. "No fim de março teve o feriado de Semana Santa, que geralmente é um período que tem um decréscimo de consumo [de suíno], e juntou com fim do mês, o que puxou as cotações para baixo", explica. Ele acrescenta que a retração faça parte de uma acomodação dos preços, que "foram muito fortes em janeiro, reflexo da crise do ano passado".
Para o presidente da Abipecs, o problema maior é de excesso de oferta no mercado brasileiro. "Normalmente quando o preço cai um pouco é porque tem excesso de oferta ou porque a indústria diminui sua capacidade de abate". Vargas afirma que a redução de consumo nos primeiros meses do ano é um fator sazonal, dado que, após as festas de fim do ano, as empresas já esperam uma diminuição do consumo. "Então no começo do ano eles reduzem o abate", atesta.
Apesar da redução consecutiva de preços das últimas semanas, o preço do suíno marcou alta de 5,5% no mercado internacional em comparação com março do ano passado, cotado a US$ 2.684 por tonelada.
Custos em queda
A queda nas cotações já prejudicou o lucro do suinocultor Francisco Canossa, que além de ter que cobrar menos pelo porco, teve que pagar 10% a mais pela ração na última semana. Segundo o produtor, ainda há pressão dos altos preços dos grãos na produção da ração para suínos.
No entanto, a tendência é de redução dos custos aos produtores. Em 11 de abril, a cotação do milho, um dos principais componentes da ração suína, registrava queda de 7,81% na comparação mensal. Por sua vez, a cotação da soja em Paranaguá caiu 5,65% no último mês. "Isso alivia para o produtor em termos de pressão de custo de produção", assinala Coser, a ABCS.
Expectativa
Para os próximos meses, os produtores e industriais acreditam que os preços voltarão a crescer um pouco por conta da proximidade do inverno, que leva ao aumento do consumo de carnes em geral, incluindo a de porco. "Se o frio vier caprichado, as pessoas comem mais feijoada e outros derivados de suínos que são característicos de época fria", aposta o presidente da Aurora, que acredita em uma recuperação de preços a partir de junho com o reaquecimento do mercado interno.
Fabiano Coser, da ABCS, sinaliza que as exportações já começam a reagir em abril. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, a média diária de embarques de abril gira em torno de US$ 6,8 milhões, 45% acima da média de março, quando os embarques somavam US$ 4,7 milhões ao dia. "Em abril, as exportações vêm atingindo volumes recordes" e "a perspectiva é de um ano bom para a suinocultura, com preços mais estáveis", afirma.
Veículo: DCI
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