Safra deve ficar um pouco abaixo de 3 mil toneladas no ano

Pescado tradicional dos meses de inverno, a tainha é a estrela de festas populares no Sul do Brasil. A carne branca e o sabor acentuado são as características mais marcantes deste pescado quando chega ao prato. Grelhado na brasa ou recheado, o peixe costuma agradar ao paladar e movimentar a economia local. Em Santa Catarina, 10 mil pescadores atuam na temporada da tainha, que se estende do fim de maio a julho.

Para este ano, a previsão é que a safra do pescado, capturado de Rio Grande, no extremo sul gaúcho, até o litoral de São Paulo, fique pouco abaixo das 3 mil toneladas. A estimativa do professor Paulo Ricardo Schwingel, pesquisador do Grupo de Estudos Pesqueiros (GEP) da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) é que o volume de tainhas capturadas pela frota industrial seja cerca de 35% menor do que em 2010, quando foram pescados 3,3 mil toneladas.

Agostinho Peruzzo, diretor da Secretaria de Pesca e Aquicultura do município de Itajaí, estima que a safra ficará próxima a 2,5 mil toneladas este ano. Como se trata de um peixe capturado "na corrida" - ou seja, no caminho feito pelo litoral brasileiro -, é necessário estar com a embarcação posicionada quando o cardume faz sua trajetória. "Alguns pescadores artesanais já estão dando a safra como encerrada, porque a maior possibilidade de captura já passou", diz Peruzzo.

Segundo Schwingel, a média história dos últimos dez anos é de 2,9 mil toneladas por safra. Em 2007, o volume foi excepcional e atingiu 6,3 mil toneladas. Conforme o pesquisador, há indícios de que esse número só foi atingido porque houve captura do pescado ao sul de Rio Grande - é provável que tainhas estrangeiras tenham entrado nas redes de barcos brasileiros. O levantamento não leva em conta dados da pesca artesanal, que soma cerca de 1 mil toneladas ao resultado de cada safra.

Até a segunda semana de junho, a frota da indústria pesqueira havia capturado pouco mais de 500 toneladas de tainha, segundo estatísticas do GEP da Univali. Conforme Schwingel, houve uma demora na expedição das licenças de pesca. Até o começo de junho, apenas 60 embarcações tinham autorização para capturar as tainhas. Nesta semana, foram outorgadas outras 22 licenças, igualando o número de embarcações autorizadas à pesca da tainha ao do ano passado. O atraso deverá gerar impacto no resultado final da safra, observa o pesquisador.

São dois os tipos de tainha que pescadores e consumidores estão acostumados a ver em Santa Catarina. A mugil lisa, que se origina da Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul, e a mugil platinus, do rio da Prata, entre Argentina e Uruguai.

A saída das tainhas da Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul, é disparada pelo frio. Com a mudança da temperatura, os peixes saem em busca de águas mais quentes, com condições ideais para a reprodução. Por isso, as tainhas fêmeas, quando capturadas, oferecem uma iguaria muito apreciada - as ovas. Em tom amarelado, o produto é disputado como o "caviar brasileiro".

Segundo Schwingel, a descoberta de que a ova da tainha despertava interesse no exterior começou a se intensificar na segunda metade desta década. Até então, a ova era apreciada frita ou preparada como recheio da tainha assada, restrita ao consumo local. Além de se tornar produto de exportação, a ova conquistou o mercado gourmet nacional.

Veículo: Valor Econômico