Carnes / Peixes
06/06/2011 10:22 - Brasil investe na tecnologia para pescar mais atum
País tem 13% da água doce do mundo, mas é só o 21º produtor
Empresas investem na pesca oceânica e na aquicultura, mas sofrem com falta de pesquisa e mão de obra
A imagem destoa no porto de Natal: 140 toneladas de atum são retiradas de um freezer gigante, abaixo do convés. Congelados a 60 graus negativos, em alto mar, os peixes foram capturados entre 200 e 400 metros abaixo da superfície.
O instrumento da pesca é o espinhel -fio de nylon com 150 quilômetros de extensão, onde são presos 3.000 anzóis. Após lançados, são controlados por computador.
A embarcação é japonesa, mas foi arrendada pela brasileira Atântico Tuna. Além deste, outros nove barcos similares estão sendo operados pela empresa nacional.
Em três meses de atividade, os dez barcos da Atlântico Tuna pescaram 350 toneladas da espécie albacora-branca, mais do que as 200 toneladas capturadas em todo o ano de 2009 pelo Brasil.
"Queremos ser protagonistas na pesca oceânica e assumir o papel do Brasil no Atlântico", diz Gabriel Calzavara, presidente da empresa.
Em um ano, a empresa quer pescar 8 mil toneladas de albacoras -hoje, o volume nacional é de 4,7 mil toneladas.
No porto, o contraste entre a embarcação recém-chegada e os velhos barcos nacionais -a frota pesqueira do país tem entre 35 e 40 anos- simboliza o período de transição do setor no país.
"A pesca industrial entra em uma nova fase com a introdução de tecnologia de águas profundas. Hoje, no Brasil, a pesca está restrita a 100 metros de profundidade", diz Alberto Cortez, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
"Sem sombra de dúvida, é na pesca oceânica que temos mais condições de aumentar a produção. Mas está bem claro que precisamos de tecnologia e mão de obra qualificada", diz Eloy de Sousa Araújo, secretário do Ministério da Pesca e Aquicultura.
O modelo de parceria com uma empresa estrangeira é um dos caminhos para incorporar tecnologia à atividade.
No caso da Atlântico Tuna, os barcos japoneses poderão ser comprados após dois anos de arrendamento. Na área de pesquisa, a aposta é a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), bem sucedida no agronegócio. Após a criação do Ministério da Pesca, há dois anos, a estatal está sendo convocada a participar mais do setor.
CORRENDO ATRÁS
Os gargalos em pesquisa e pessoal mostram o atraso do Brasil na pesca. Apesar de possuir 13% da água doce do planeta e uma costa de 8.500 quilômetros de extensão, o país tem papel de coadjuvante. Produz cerca de 1,2 milhão de toneladas, o equivalente a 2% da produção chinesa.
Falta de políticas públicas direcionadas ao setor e a abundância de outros tipos de proteína animal no país são apontados como razões para o atraso.
Mas o cenário muda aos poucos. Nos últimos quatro anos, a aquicultura, principal aposta do governo para o setor, cresceu 60%.
Veículo: Folha de S.Paulo
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