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12/04/2011 12:14 - Todos os peixes de Ideli

A ministra da Pesca quer atrair empresas privadas para investir na criação em águas de hidrelétricas e morder um mercado de US$ 100 bilhões

 

Há dez anos, ao pesquisar oportunidades relacionadas ao agronegócio, o engenheiro mecânico Tito Capobianco descobriu a tilápia, peixe de água doce, apreciado por sua carne leve e saborosa. Animado com a perspectiva de retorno, decidiu investir na criação em cativeiro.

 

Mas, em vez de comprar ou arrendar uma fazenda, Capobianco decidiu pedir autorização do governo para usar as águas da represa da hidrelétrica de Ilha Solteira, na divisa de São Paulo com Mato Grosso do Sul. Neste ano, a Geneseas Aquacultura, fundada por ele, já é uma das maiores empresas do setor no País. Deve produzir cinco mil toneladas do peixe, 30% a mais do que no ano passado. 
  

Capobianco diz não ter do que se arrepender ao ter investido na aquicultura. “É a atividade que mais cresce no agronegócio em todo o mundo”, disse ele à DINHEIRO. A produção é vendida para supermercados, hotéis e restaurantes e a exportação, que já chegou a representar 60% do faturamento – não divulgado –, hoje é de apenas 15%, já que o câmbio e o crescimento do mercado doméstico tornam mais vantajoso vender o produto internamente.
 

A criação de peixes em tanques-redes ainda é incipiente no Brasil, mas o governo federal quer incentivar iniciativas como a da Geneseas Aquacultura em outros reservatórios e colocar o País no mapa dos grandes produtores mundiais de pescado. Trata-se de um mercado que movimentou US$ 98 bilhões em 2008 e já passa de US$ 100 bilhões. 
 

Nos últimos anos, a produção brasileira cresceu o dobro da média mundial, que vem subindo 6,6% ao ano desde a década de 1970. No entanto, com 13% da água doce do planeta, o Brasil ainda tem uma participação pequena no mercado mundial. Dos 160 milhões de toneladas de pescados produzidos em 2010, o País contribuiu com apenas 1,3 milhão de toneladas, incluindo a captura em mares e rios e a criação de peixes e frutos do mar em cativeiro.
 

Esta última respondeu por apenas 460 mil toneladas. “O Brasil pode mudar de posição rapidamente e se tornar um fornecedor mundial com produto de qualidade”, disse à DINHEIRO a ministra da Pesca e Aquicultura, Ideli Salvatti. Segundo Ideli, que chegou a ser criticada ao assumir o posto, por sua falta de familiaridade com o setor, o Ministério quer incentivar a produção nas águas da União e dobrar esse volume nos próximos anos.

 

Além das reservas particulares e tanques escavados em fazendas, o País tem 218 reservatórios nas mãos da União, que somam 5,5 milhões de hectares. Desses, a lei prevê que no máximo 1% – ou 55 mil hectares de lâmina d’água –  podem ser destinados à aquicultura. As empresas que já atuam no setor hoje utilizam apenas 1.145 hectares. Para aumentar a produção, o governo pretende colocar tanques-redes em boa parte dos reservatórios, que hoje servem apenas para gerar energia elétrica.
 

A ideia é aproveitar a água, que nas usinas é de responsabilidade da União, para engordar os peixes. Seis reservatórios já foram cedidos para a produção pesqueira. Nas represas das hidrelétricas de Itaipu, Castanhão, Furnas, Três Marias e Ilha Solteira, empresas e pequenos criadores produzem tilápia, e em Tucuruí, no Pará,  é produzido o pirapitinga, comum na bacia amazônica. Outros 37 reservatórios serão licitados até o fim do ano.
 

Na avaliação do Ministério da Pesca, a atividade pode ser bastante rentável, desde que a empresa desenvolva toda a cadeia produtiva: da criação de alevinos (embriões de peixe) à produção de ração e equipamentos para o cultivo, industrialização e distribuição do pescado. Um estudo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) mostra que o setor é lucrativo, o que significa o aval do banco para financiar a atividade.
 

“Vamos entrar numa fase de grandes investimentos”, diz Antonio Alves Junior, chefe do Departamento de Relações com o Governo do BNDES. “O peixe vai se parecer com a produção bovina, onde se aproveita todos os subprodutos.”
 

A estruturação da cadeia foi o modelo usado pela Nativ Indústria de Pescados Amazônicos, que entrou em operação em 2008 com sócios das famílias Fontana e Furlan, (donos da Sadia, hoje acionistas da BR Foods) e transplantou para a criação de peixes a experiência da criação de frangos. 
 

“Usamos o mesmo modelo, com verticalização de toda a produção”, diz Pedro Furlan, presidente da Nativ. Segundo ele, o faturamento da empresa vem mais que dobrando a cada ano: de R$ 8 milhões em 2009, chegou a R$ 20 milhões em 2010, e deve bater na casa dos R$ 50 milhões neste ano. Os empanados de peixe com a marca Nativ, já são exportados para Portugal. O próximo passo da empresa é o desenvolvimento de rações específicas para os diversos tipos de peixe produzidos no Brasil.

 

Veículo: Isto É Dinheiro

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