Pelo menos 110 integrados da Doux Frangosulna região de Passo Fundo (RS) decidiram suspender o alojamento de aves para a empresa até que ela coloque em dia os pagamentos pelos lotes de animais para abate. A medida é um protesto contra os atrasos que se repetem desde fevereiro de 2009 no Estado e foram agravados a partir do início de 2010 pelas falhas na distribuição de ração para as granjas.

Segundo o presidente da Associação dos Criadores de Frango de Passo Fundo (Avepenca), Luiz de Jesus, os criadores que aderiram ao boicote estão espalhados por dez municípios e fornecem em média 3,5 milhões de aves para a Doux a cada 35 ou 45 dias. Os lotes já em desenvolvimento serão entregues até o fim deste mês e não serão repostos. O frigorífico da multinacional francesa na cidade abate 330 mil cabeças por dia, informou.

Em meio a rumores de que as operações da empresa no Brasil estariam na mira de grandes frigoríficos, Jesus disse que nos próximos dias tentará ampliar a adesão ao protesto com a ajuda de outras entidades representativas dos produtores e dos sindicatos de trabalhadores rurais. Na região de Passo Fundo, que inclui 70 municípios no norte do Rio Grande do Sul, há 650 integrados da Doux. Em todo o Estado, são 2,2 mil.

Segundo o dirigente, muitos criadores querem migrar para outros frigoríficos, mas a Doux vem dificultando a rescisão dos contratos de integração. Em dezembro a Avepenca chegou a protocolar denúncia contra a empresa no Ministério Público Estadual (MPE), que considerou o caso fora de sua alçada por se tratar de uma relação comercial privada. Conforme Jesus, uma ação de cobrança judicial também não está descartada.

Ele explicou que, na região, os últimos lotes pagos pela multinacional foram os entregues no dia 4 de outubro. Em geral os atrasos alcançam de 50 a 60 dias no Estado, além do prazo usual de um mês após o fornecimento das aves, reforçou o presidente da Federação dos Trabalhadores Rurais do Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Elton Weber. Ele acredita que nos próximos dias outros integrados deverão aderir ao boicote. "Os produtores estão cansados", comentou.

Em novembro a empresa havia apresentado à Fetag-RS a quarta proposta para regularização integral dos débitos desde o início da crise. A Doux chegou a tomar um financiamento bancário de R$ 20 milhões, mas o combinado foi novamente descumprido e apenas pequena parte dos pagamentos foi colocada em dia, segundo relatos dos sindicatos de trabalhadores rurais.

Procurada ontem, a empresa afirmou, por intermédio de sua assessoria, que até o momento não havia sido notificada da decisão dos integrados de suspender os alojamentos. Disse ainda que as fábricas continuarão funcionando "normalmente" e que "não há nenhuma intenção" dos acionistas em vender as operações no Brasil.

Desde que os atrasos começaram, a Doux deu diferentes explicações para o problema aos produtores. As razões teriam incluído a queda de consumo no mercado internacional a partir da crise mundial de 2008, o impacto negativo da valorização do real sobre as exportações, que representam três quartos do faturamento (de R$ 1,7 bilhão em 2009) e o aumento dos custos para a produção de ração.

Veículo: Valor Econômico