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21/07/2010 09:16 - BNDES se compromete a investir mais R$ 2,5 bilhões no Marfrig

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) prepara uma nova investida em sua estratégia de formar frigoríficos transnacionais brasileiros. Ontem, o frigorífico Marfrig informou que o banco se comprometeu a subscrever integralmente uma operação de emissão de debêntures de R$ 2,5 bilhões da empresa.

 

Os recursos serão usados para financiar a compra da americana Keystone Foods e da O"Kane Poultry, produtora de carne de aves na Irlanda do Norte. A subscrição deve ser feita por meio da BNDESPar, empresa de participações do banco estatal.

 

A direção do banco confirmou, por meio da assessoria de imprensa, a disposição de adquirir 100% da oferta caso o mercado não subscreva os papéis. Foi o que ocorreu em fevereiro, quando o frigorífico JBS Friboi concluiu a oferta de debêntures para viabilizar a compra da companhia americana Pilgrim"s Pride. Diante da ausência de investidores privados, o BNDES cumpriu a garantia dada meses antes e participou com R$ 3,476 bilhões na aquisição de 99,92% das debêntures lançadas.

 

A data do lançamento das debêntures ainda não foi definida, mas o prazo para a sua conversão em ações deve chegar a cinco anos. Extraoficialmente, uma fonte do BNDES disse que o banco pretende contribuir para elevar três grupos frigoríficos nacionais ao topo do ranking mundial, ficando entre as sete ou oito maiores companhias. Além de JBS e Marfrig, a terceira aposta é a BRF - Brasil Foods, resultado da fusão entre Sadia e Perdigão.

 

O movimento do BNDES é avaliado como contraditório pelo presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Salazar. "Recentemente, o frigorífico Frialto se dirigiu ao banco com pedido de recuperação judicial e a informação que obteve é de que os recursos para o setor estavam esgotados."

 

Ele alega que a entidade não é contrária ao apoio dado ao Marfrig, mas defende um maior apoio do banco aos pequenos e médios do setor. "Se o BNDES pode apoiar o grupo Marfrig, por que também não pode apoiar outros que apresentam garantias reais?", questiona.

 

Gigantes globais. O banco divulga que tem interesse em transformar abatedouros em grandes indústrias globais. No grupo JBS, que recentemente incorporou o Bertin, o banco de fomento detém 20% de participação acionária; no Marfrig a parcela é de 13,89%.

 

Segundo uma fonte ligada à operação, o banco considera a possibilidade de converter as debêntures em ações ao fim do prazo como um bom negócio, por apostar na valorização do ativo. "É uma boa oportunidade de compra para a BNDESPar." Ele lembra que esse tipo de operação é feito com recursos captados no mercado, não com os aportes do Tesouro e nem com verba do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), que compõem a maior parcela do funding.

 

A ideia no BNDES é que essas empresas só podem ser robustas quando concluírem o processo de internacionalização. Mas os técnicos do banco admitem que o fato de o mercado não acompanhar essas operações deve-se ao risco embutido nas subscrições. "O BNDES assume esse risco", diz uma fonte, citando outros setores, como petroquímica e papel e celulose, que figuram entre as prioridades do banco.

 

A corretora XP Investimentos avalia que o governo está aumentando sua participação no setor de alimentos porque essa indústria é estratégica para o País, uma vez que influencia diversos setores da economia e é um dos que mais emprega.

 

Aquisição
US$ 1,26 bi é o valor da operação de compra da companhia Keystone Foods, dos Estados Unidos, anunciado no mês passado.
A empresa é uma das maiores fornecedoras da rede McDonald"s no mundo

 

JBS Friboi
O primeiro grande crédito do BNDES para aquisições de frigoríficos no exterior foi em 2005, com os US$ 80 milhões para o Friboi comprar a argentina Swift. Depois disso, o BNDES continuou investindo na expansão do Friboi. Teve papel fundamental em todas as grandes aquisições do grupo, como a americana Swift, em 2007, e a Pilgrim"s Pride, no ano passado.

 

Bertin
Em 2008, o banco fez um aporte de R$ 2,5 bilhões no frigorífico Bertin, ficando com 27,5% da empresa. No ano passado, Bertin e JBS Friboi acabaram unindo suas operações.

 

Marfrig
Em 2007, o BNDESPar comprou cerca de 4% do Marfrig em seu IPO. Depois, essa participação na empresa de Marcos Molina (foto) foi ampliada para cerca de 14%.

 


Veículo: O Estado de S.Paulo

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