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28/06/2010 09:21 - Marfrig quer Seara como marca global

Depois de adquirir 40 empresas, grupo afirma que encerrou as compras e prioriza eficiência e novos mercados

 

Com a aquisição da americana Keystone, por US$ 1,26 bi, Marfrig põe os pés no crescente mercado asiático

 

O Marfrig não vai mais às compras. Após a aquisição de 40 empresas, Marcos Antonio Molina dos Santos, presidente do grupo, diz que agora é hora de buscar mais clientes, principalmente com a oferta de produtos de maior valor agregado.

 

A busca do crescimento se dará com a integração entre as empresas do grupo, que, geograficamente, ocupam cinco continentes.

 

"Nós já temos tudo. Os melhores clientes, os melhores fornecedores e os melhores parceiros. Qual o nosso desafio agora? Ficarmos mais eficientes", diz Molina.

 

A informação foi dada à Folha no escritório da empresa, em São Paulo, após o jogo entre Brasil e Portugal, quando a transmissão da Fifa expôs para o mundo a Seara, marca que o grupo quer transformar em carro-chefe mundial de seus produtos.

 

Sorrindo, o corintiano Molina, que é um dos patrocinadores da seleção brasileira, da Fifa e do Santos, se diz surpreso com os resultados já obtidos com a campanha.

 

"Não investimos tanto e estamos tendo ótimos resultados." Ele não revela o valor, mas diz que os US$ 100 milhões estimados pelo mercado são exagerados.

 

A partir de agora, os consumidores brasileiros verão com mais frequência a marca Seara nos locais de compra, o que ocorrerá também fora do Brasil. As indústrias do grupo no exterior também passarão a comercializar a marca, inclusive nos EUA.

 

CARTADA

 

Uma das grandes cartadas do grupo foi a compra da norte-americana Keystone, há poucas semanas.

 

Ao pagar US$ 1,26 bilhão pela empresa, o Marfrig eleva as receitas para R$ 27 bilhões por ano, reafirma a vocação para o setor de "food service" e coloca os pés no crescente mercado asiático, com indústria até na China.

 

O Marfrig, que já era fornecedor de hambúrguer para a rede McDonald's, terá agora 28% de suas receitas vindas dessa cadeia de fast food após a compra da Keystone.

 

Para pagar a Keystone, o Marfrig deverá ter, mais uma vez, apoio do BNDES, que já tem 14% da empresa.

 

Mesmo após tanta expansão, é difícil acreditar que o Marfrig tenha encerrado as compras. Logo após a aquisição da Seara, Molina também disse que o momento era apenas de concretizar o grupo, e não de novas compras. Acabou surpreendendo ao adquirir a Keystone.

 

Oferta de ações impulsiona expansão

 

O filho de açougueiro Marcos Molina dos Santos começou a vida de empreendedor no mercado de distribuição, em 1986, com apenas 16 anos.

 

Dois anos depois, já havia conseguido se estabelecer como importante distribuidor de cortes de carnes, conquistando renomados restaurantes.

 

Em 1998, iniciou as atividades do seu primeiro centro de distribuição em Santo André (SP) e, dois anos depois, comprou a sua primeira unidade de abate de bovinos.

 

Começou a exportar em 2001, quando arrendou seu segundo abatedouro.

 

A partir daí, teve início uma fase de franca expansão, que ainda não terminou. A internacionalização começou no Chile, em 2006, ano em que também fez aquisições na Argentina e no Uruguai.

 

O grande salto veio a partir da oferta pública inicial de ações que a empresa fez na Bovespa em 2007, na qual o Marfrig captou cerca de R$ 1 bilhão.

 

Com caixa, a empresa voltou às compras. Até aqui, já foram 40 [ ] aquisições, 16 delas no exterior.

Na Argentina, o marco foi a compra da Quickfood, uma das principais indústrias de alimentos do país e dona da marca Paty, líder em hambúrgueres.

 

Aliando essa a outras aquisições, o Marfrig tornou-se a maior da Argentina em abate, venda e exportação de carne.

 

EUROPA

 

O grande passo na Europa ocorreu em 2008, com a aquisição da Moy Park, dona de 15 unidades na Inglaterra, Irlanda do Norte, França e Holanda.

 

A transação com esse grupo incluiu também empresas no Brasil, ampliando sua presença no segmento de "food service" e ganhando força em aves, com as compras da Braslo e da Pena Branca.

 

Depois disso, Molina decidiu focar a expansão no mercado de aves no país. Comprou a divisão de perus da Doux Frangosul e a Seara. Com a compra da Seara, o Marfrig ganhou uma marca, hoje trabalhada a peso de ouro.

 

E, quando analistas, concorrentes e investidores pensavam que a Marfrig havia parado por aí, uma surpresa: a compra da norte-americana Keystone Foods, por US$ 1,26 bilhão, valor que deve ter financiamento do BNDES.

 

A compra dobrou o faturamento do Marfrig, para R$ 27 bilhões/ano, segundo previsão da empresa.

Superou a Brasil Foods em receita, mas ainda está atrás da JBS, que obteve R$ 55 bilhões em 2009.

 

Para analistas, retorno financeiro demora

 

O rápido e forte crescimento do Marfrig Alimentos surpreende, mas agrada.

 

O perfil de negócios adotado pela companhia -apoiado na diversificação geográfica, nos tipos de produtos comercializados e com presença em todos os elos da cadeia- é aprovado por especialistas no setor, analistas de mercado e investidores.

 

"O crescimento é fabuloso. A cada aquisição, ela torna-se uma empresa de alimentos mais completa, o que é positivo. Os riscos da operação diminuem", afirmou o diretor técnico da AgraFNP, José Vicente Ferraz.

 

Mas essa expansão quase meteórica também levanta dúvidas em relação à eficiência da administração para aproveitar os benefícios que a incorporação de novas empresas pode proporcionar, as chamadas "sinergias".

 

REFLEXO NO BALANÇO

 

Segundo Ronaldo Valiño, sócio da PricewaterhouseCoopers, uma empresa demora, em média, cem dias para colher os frutos mais imediatos de uma incorporação -desde que ela tenha sido planejada antes de fechado o acordo.

 

Quanto maiores as empresas envolvidas na operação, mais demorado é o retorno. Assim, o mercado ainda aguarda os reflexos da compra da Seara no balanço financeiro do Marfrig.

 

Por essa razão, quando anunciou a compra da Keystone, há quase duas semanas, a reação do mercado financeiro não foi positiva.

 

As ações fecharam em queda superior a 3% no dia, refletindo um susto dos investidores com a aquisição de uma empresa com o mesmo porte da compradora.

 

"A operação foi inesperada. Mas, após alguns dias, o mercado entendeu que os riscos que envolviam a compra eram muito baixos e que ela poderia abrir portas em mercados ainda não explorados pela empresa, como a China", diz Juliana Rozenbaum, analista da Itaú Securities.

 


Veículo: Folha de S.Paulo

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