O mercado do boi gordo sinaliza reaquecimento após o carnaval. Apesar da alta na média de preços da arroba na semana passada, segundo indicador da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz e da Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuro (Esalq/BM&F Bovespa), o setor opera em ritmo lento e os frigoríficos apresentam escalas curtas. Na sexta-feira, a arroba fechou cotada em R$ 77, 24 em São Paulo. "O escoamento da produção, as vendas estão difíceis para os frigoríficos. A volta às aulas e a queda do dólar devem aquecer o setor", diz Marco Túlio Habib Silva, analista de mercado da Scot Consultoria, considerando a possibilidade de queda de preço caso o avanço não ocorra.

O mercado futuro, segundo Gabriela Tonini, analista de mercado pecuário da Scot, indica entressafra para setembro, com cotação esperada da arroba a R$ 80 e para outubro R$ 81.

Gabriela Giacomini, pecuarista e gerente de Operações do Programa Montana, também está otimista com o setor para 2010, apesar de considerar as parcerias entre as grandes processadoras prejudicial ao pecuarista. "A concentração dos frigoríficos tem sido um problema. Não temos mais concorrência de preço."

Por outro lado, a disputa na relação de troca do bezerro com o boi gordo tem se mantido firme. "A pouca oferta de bezerros tem deixado o preço da categoria elevado", segundo Gustavo Adolpho Maranhão Aguiar, zootecnista e consultor da Scot. Estudo elaborado pela consultoria não prevê mudança em curto prazo, apesar do movimento de retenção de matrizes nos últimos dois anos.

Já a pecuarista Giacomini acredita que em abril e maio, período de desmame dos animais, a oferta de bezerros no mercado pode crescer e causar queda no preço.

Segundo Aguiar, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que o pico do abate mensal de fêmeas se deu no início de 2007, reflexo dos baixos preços pagos pelo boi gordo em 2006, os menores valores deflacionados desde 1997. "Com o preço do boi gordo baixo, o abate de vacas aumenta pela necessidade de o fazendeiro fazer caixa."

Com a baixa demanda de bezerros a cotação da categoria subiu. Em maio de 2008, com os altos preços, a relação de troca entre o boi gordo de 16,5 arrobas e o bezerro de 7 arrobas ficou abaixo de 2,11, ou seja, com a venda de um boi gordo comprava-se 2,11 bezerros, a média histórica de 1997 até hoje, considerando preços de São Paulo. "Desde então a relação de troca não voltou ao nível médio e o preço do bezerro ainda é considerado alto."

Como uma cotação puxa a outra e o consumidor também é um dos responsáveis por ditar o ritmo do setor, o crescimento da pecuária de corte vai depender das exportações. Além do avanço nas vendas, da oferta de bezerro e da queda do dólar.

Para a pecuarista Giacomini, a arroba do boi estimada para o mercado futuro vai atingir R$ 81 se as exportações também avançarem. "A China pode ser grande responsável por esse crescimento, mas se realmente houver aumento de produção na Rússia, as exportações brasileiras podem ser sofrer prejuízos", pondera.

A analista Tonini disse que o Brasil exportou, em 2009, 430 mil toneladas para os russos, 61,5% do montante total de 700 mil toneladas adquiridas pelo país. Se a redução nas importações for de 20% e esse montante for tirado do Brasil, serão menos 90 mil toneladas. "Não sei até que ponto a produção deles vai aumentar, os números me parecem exagerados."

A United States Department of Agriculture (USDA) estima avanço de 20% nas exportações brasileiras em 2010. "Especialmente para a União Europeia."

Veículo: DCI