Bebidas
12/08/2014 12:38 - Exportações de vinho da Argentina sucumbem à inflação galopante
Por Sara Schaefer Muñoz | The Wall Street Journal, de Mendoza, Argentina
Durante anos, José Manuel Ortega exportou um tipo de vinho tinto Malbec de sua vinícola, ao pé dos Andes cobertos de neve, que os críticos especializados nos Estados Unidos classificaram como "tinto taciturno", com um "sabor monumental".
Recentemente, porém, Ortega suspendeu a produção do seu vinho Massimo, de cor grená e sabor frutado. Com a inflação galopante na Argentina, os custos trabalhistas dispararam e o empresário já não conseguia lucrar com os produtos mais baratos, vendidos no varejo a um preço entre US$ 9 a US$ 12. A crise econômica que está assolando todos os setores do país, das montadoras ao mercado imobiliário, não poupou a indústria do vinho no oeste da Argentina.
Ortega, que fundou a vinícola O.Fournier nesta cidade há 14 anos, ainda vende o vinho Alfa Crux, mais sofisticado, que traz o nome de uma das estrelas do Cruzeiro do Sul que cintilam acima do vinhedo. Mas "fomos forçados a deixar de fornecer" vinhos na faixa de preços mais baixa, diz Ortega. "Quando a situação melhorar, poderemos voltar a esses projetos."
Ortega, de 46 anos, é um ex-banqueiro de investimentos que se mudou da Espanha para a Argentina depois de ver o potencial para grandes vinhos no solo de granulação fina e no céu claro do Vale do Uco. Mas hoje ele está entre os produtores bem-sucedidos afetados por uma inflação que, segundo alguns economistas, está perto de 40% ao ano.
A ascensão do setor vinícola da Argentina era considerada uma história de sucesso. A demanda no exterior pelos vinhos argentinos Malbec, de boa qualidade e preço acessível, gerou um crescimento robusto durante quase dez anos, tornando a Argentina o quinto maior produtor mundial de vinhos em 2011, de acordo com a Organização Internacional da Vinha e do Vinho. Mas, no ano passado, as exportações caíram 5%, para US$ 877 milhões, segundo a Bodegas de Argentina, uma organização comercial do setor. No mesmo período, a exportação em volume recuou 14%, à medida que os fornecedores argentinos encontravam mais dificuldade para continuar competindo e lucrando.
Este ano também tem sido cruel. Segundo a Bodegas, as exportações de vinho engarrafado, encaixotado ou embalado individualmente caíram 5,5%, para 77 milhões de litros, nos primeiros cinco meses de 2014. O grupo setorial informa que o valor das exportações de vinho diminuiu 3,6% no período, para US$ 301 milhões, e o volume das exportações para os EUA, o maior mercado da Argentina, encolheu quase 8%.
"Não é por causa do vinho ou da maneira como eles administraram suas marcas", diz Stephen Rannekleiv, analista do segmento de vinhos e destilados do Rabobank Group. "A questão da inflação está realmente fora das mãos deles." O vinho foi afetado mais fortemente do que produtos agrícolas como a soja porque colher uvas exige uso intenso de mão de obra. Analistas estimam que os gastos dos produtores subiram ao menos 100% nos últimos quatro anos.
Isso significa que há menos garrafas de vinho argentino barato chegando às prateleiras dos restaurantes e lojas de bebidas mundo afora.
"As pessoas querem algo para [beber] à noite que seja acessível", diz Victor Marquez, gerente do Beverage Depot, em Dallas. Segundo ele, as garrafas de Malbec a US$ 8,99 venderam muito bem por anos, "mas agora não temos nenhuma nas gôndolas".
Uma das primeiras vinícolas da Argentina foi fundada pelos padres jesuítas no século XVI para produzir vinho para as missas, segundo Ian Mount, autor do livro sobre o setor vinícola argentino "The Vineyard at the End of the World" ("O vinhedo no fim do mundo", em tradução livre). Mais tarde, um agrônomo introduziu as vinhas Malbec, e os produtores logo descobriram que as uvas cultivadas na região seca do oeste da Argentina eram menos suscetíveis a doenças causadas por fungos. "É um desses países onde [o vinho] é praticamente considerado um grupo alimentar [à parte]", diz Mount sobre a Argentina.
Nos anos seguintes à moratória de 2001 da Argentina e à desvalorização da sua moeda, investidores corajosos acorreram à região vinícola. Muitos produtores consideraram vantajoso exportar vinhos para os EUA e receber em dólares, enquanto cobriam seus custos com o fraco peso argentino. Embora existam muitos vinhos argentinos de preço mais elevado e melhor qualidade, os exportadores conseguiram entrar no mercado americano promovendo os Malbecs como produtos de alta qualidade a preços baixos.
Mas agora essa estratégia faz com que seja difícil cobrar mais dos consumidores. "Eles acabaram se encurralando, porque as pessoas esperam que a maioria dos Malbecs custe menos de US$ 20", diz Kathleen Smith, compradora da Castle Wine & Spirits, em Westport, no Estado americano de Connecticut.
Mendoza, cidade de 1,8 milhão de pessoas, vive da indústria vinícola. Dezenas de hotéis e restaurantes atendem aos turistas que vêm conhecer os vinhedos. Garrafas de vinho com seis metros de altura ficam no entorno de um parque nos arredores da cidade, uma homenagem ao produto que dá vida à região.
Michael Evans, um dos fundadores da Vines of Mendoza, uma vinícola que oferece lotes para quem quiser produzir seu próprio vinho na região, diz que recentemente reduziu as exportações, inclusive dos seus Malbecs de US$ 18 a garrafa, devido à alta dos custos trabalhistas.
"Acabamos de dar um reajuste salarial de 15% aos nossos trabalhadores, e ele só serve para ajudá-los a pagar as contas após a inflação deste ano", diz Evans, que vai reter a produção e esperar um momento mais lucrativo para exportar.
Alguns têm investido mais no lado turístico do negócio. O O. Fournier tem um restaurante sofisticado na sua vinha. Ortega também vende parcelas do vinhedo por até US$ 170.000 o hectare, oferecendo aos compradores a oportunidade de produzir o seu próprio vinho ou construir uma casa de veraneio.
Mas enquanto mostrava os vinhos que mantém armazenados em barris de carvalho de 120 anos de idade, Ortega ressaltou que a sua paixão é pelo vinho. Ele diz que, assim como outros produtores da região, está esperançoso que, quando acabar o mandato da presidente Cristina Kirchner, no próximo ano, haverá novas políticas econômicas para aliviar a inflação e atrair investimentos estrangeiros.
"Espero que uma política econômica mais coerente beneficie o nosso setor", diz ele. "Claro que a Argentina produz muita soja, mas as pessoas não vão para um lugar de sushi e dizem: 'Esta é a ótima soja da Argentina!" Com as exportações de vinho, você está realmente criando uma marca para o país no exterior."
Veículo: Valor Econômico

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