Depois de verem seus faturamentos ameaçados pela entrada em vigor da lei seca, na metade do ano, e pela disparada do dólar, no segundo semestre, as empresas importadoras de bebidas recuperaram o otimismo e esperam encerrar 2008 com aumento geral nas vendas e crescimento de negócios no Natal de 10% a até 25% sobre o ano passado. O movimento dos últimos três meses do ano para esse setor representa entre 40% e 60% das vendas anuais.

Segundo Rodrigo Lanari, gerente de marketing e produto do grupo Expand, que importa em torno de 1,5 mil rótulos, a lei seca atingiu fortemente o setor no meio do ano e as vendas chegaram a cair, inicialmente, entre 30% e 40%, principalmente para os restaurantes, que sentiram redução nos pedidos de bebidas alcoólicas pelos clientes. Em resposta a essa queda inicial houve uma rápida reação dos restaurantes que fizeram ações de consumo consciente, ofertando em seus cardápios vinhos em taça e meia garrafa, o que suavizou a retração dos consumidores. De outro lado, a venda aumentou nos supermercados porque os consumidores passaram a comprar para consumir em casa, o que compensou e equilibrou as perdas.

A venda de vinhos e espumantes importados pela Expand, de acordo com Lanari, vinha subindo cerca de 20% ao ano nos últimos três anos e reduziu-se a 12% até o final de outubro. A expectativa é de que as vendas natalinas elevem esse patamar para 15%. Para impulsionar as vendas, a empresa criou uma ação de marketing comunicando que os preços serão mantidos com o dólar a R$ 1,60.

Além disso, a Expand está dando um desconto de 20% em uma lista selecionada de 35 produtos de marcas importantes de vinhos, como o espumante francês Diamant Royal, ou o tinto italiano Barbaresco Batasiolo e o tinto chileno Arboleda. A importadora trouxe também novos rótulos para o mercado como o tinto chileno Palo Alto, e o branco Mount Nelson, da Nova Zelândia.

As vendas da Expand direto ao consumidor - a empresa tem oito lojas próprias em São Paulo e 30 franquias, além do canal de televendas - representam 40% do faturamento da importadora. As vendas a atacadistas e varejistas, representam 40% e aos restaurantes, 20%.

Retração de 30% no ano

De acordo com Osório Henrique Furlan Junior, vice-presidente da Associação Brasileira dos Exportadores e Importadores de Bebidas e Alimentos (ABBA) e sócio da importadora Bruck, praticamente todo o setor está trabalhando com o dólar a R$ 1,80. "Não adianta subir o preço porque não vai vender", avalia Furlan. Ele estima que a retração nas vendas ao longo deste ano foi de 30% em relação ao ano passado, considerando reflexos da lei seca e, recentemente, da crise financeira internacional.

"Se nos basearmos no desempenho até novembro, o setor não vai nem alcançar o volume de vendas de 2007", declara Furlan Junior. De acordo com ele, o grande problema será o primeiro trimestre de 2009, quando o setor terá que repor o estoque.

Alguns empresários não descartam a possibilidade de ter que reajustar preços no início do próximo ano. "Vamos aguardar, mas quando três ou quatro começarem a passar novos valores, vamos ter que rever nossa posição", diz Bruno Airaghi, diretor de marketing da Interfood, empresa que importa cerca de 500 itens entre alimentos e bebidas. Por enquanto, a empresa está mantendo os valores de tabela mas reduziu o desconto médio concedido de 10% para 3% para não ter que aumentar preços.

Os clientes estão mais cautelosos, segundo Airaghi, mas mesmo assim a empresa trabalha com uma expectativa de faturamento para este ano 18% acima de 2007. Até setembro, as vendas já haviam atingido 90% do volume previsto para o ano. Entre as promoções para incrementar as vendas deste ano, a Interfood lançou embalagens especiais para os vinhos e estojos de vinhos com taças. Cerca de 45% das vendas da Interfood são de fermentados, 30% de destilados e 25% de alimentos. A empresa passou a fazer a importação este ano da tequila mexicana Sauza, do brandy espanhol Fundador, do vinho italiano Bolla e do espumante argentino Maria Codorniu Sur.

O mercado de vinhos, segundo Airaghi, vem crescendo nos últimos dez anos, com o aumento do interesse dos consumidores por cursos, publicações especializadas e degustações.

Varejistas de todos os portes

O grupo La Pastina, que agrega a rede World Wine, está mais otimista e prevê aumento de vendas entre 20 e 25%. Segundo Bolí Rosales, diretor de planejamento e operações do grupo houve um aumento de 30% no número de clientes da empresa fora do eixo Rio-São Paulo. De acordo com Rosales, desde o ano passado a importadora vem sentindo um movimento das redes pequenas trabalhando mais com produtos importados. Além disso, a La Patina está fazendo parcerias com algumas grandes redes varejistas para importar produtos diretamente para elas. Na La Pastina, 65% do faturamento vem de bebidas e 35% de alimentos e na World Wine, 99% das vendas são vinhos e o restante espumantes.

Como a empresa sentiu neste ano um aumento da procura por kits promocionais, criou algumas versões para incrementar as vendas de produtos já conhecidos da La Pastina, como o vinho chileno Gato Negro, que está sendo embalado junto com um pacote de massa italiana Divella, e o vinho lambrusco italiano Cella, embalado com taças ou com massa Divella. Na mesma linha a La Pastina montou um kit do vinho argentino La Chamiza, com uma camiseta ou com um boné. As novidades para o Natal 2008 na linha da La Pastina, segundo Rosales, são o suco de tomate La Pastina, 100% natural, e a mostarda francesa Beaufor.

"Estamos com um crescimento nas vendas até o momento de 22% sobre o ano passado, mas a nossa meta é atingir 30% até o final do ano", diz Cristiano Bueno dos Santos, gerente de vendas da La Rioja. A empresa já fez um reajuste de preços. "Estamos tendo uma grande dificuldade já que o dólar subiu 36% e tivemos que reajustar nossa tabela", declara Santos.

Gastronomia puxa vendas

A Vinhas do Douro, uma nova importadora que está há três anos no mercado e que trabalha com 50 rótulos de vinhos, está trabalhando com uma expectativa de crescimento das vendas entre 5% e 10%, estima Sidnei Black, sócio da importadora. A empresa vinha crescendo 20% ao ano e as importações este ano foram entre 5% e 10% maiores que as do ano passado.

O empresário acredita que o que incentivou o crescimento do consumo foi a moda da gastronomia, as pessoas querendo aprender mais sobre vinhos, procurando aulas e participando de degustação.

Segundo Black, a importadora não sentiu retração do mercado ou diminuição nas vendas em função da crise mas teme que haja reflexos no próximo ano. A empresa introduziu este ano em sua linha o espumante Raposeira, o vinho branco Odisséia e o azeite Valverde, extra-virgem, com 0,2% de acidez. O Empório Santa Maria, conhecido por comercializar uma ampla gama de produtos importados, pretende começar a fazer importações diretas a partir do próximo ano. "Está em nossos planos para 2009. Vamos olhar a oportunidade de importarmos vários itens diretamente, tanto de mercearia, quanto de bebidas", declara Bernardo Ouro Preto, sócio-proprietário do Empório Santa Maria. Atualmente a empresa compra de 200 fornecedores diferentes entre quatro e cinco mil itens importados, que representam entre 30% e 35% das vendas de Natal

As vendas do grupo neste ano devem ficar 10% acima das de 2007 e a loja Santa Maria, que passou por uma ampla reforma, pode até superar esse nível de crescimento das vendas. O grupo - que tem uma loja Santa Maria e cinco lojas St Marche - comprou o Empório do grupo Expand, em novembro do ano passado.

De acordo com Ouro Preto, o grupo não sentiu retração dos consumidores e as vendas de importados "continuam hiper fortes". "Fechamos a maioria dos pedidos em julho, então tivemos sorte com o câmbio. Não pretendemos aumentar os preços até o início de 2009. Estamos recusando rever preços junto aos fornecedores. Para quem quiser aumentar preços vamos bater pé e comprar de outro", declara o empresário.

Ele diz que está praticando preços de três meses atrás. "Não acho certo. Quando o dólar caiu ninguém baixou preço, agora que subiu não é certo aumentar os preços", diz. A exceção, segundo ele, são os alimentos perecíveis, como os queijos importados e algumas frutas secas porque os importadores têm que liberar esses produtos toda semana no porto. Neste caso, a empresa aceita os aumentos e repassa-os aos clientes.

Veículo: Gazeta Mercantil