Passivo da rede de lojas de eletros e móveis chega a R$ 105 milhões



Guilherme Daroit


Tradicional rede de lojas de eletrodomésticos e móveis, com 38 unidades no Estado, a Manlec teve aprovado, na última terça-feira, o seu pedido de recuperação judicial. Após o deferimento da sentença pela Vara de Falências, Concordatas e Insolvências de Porto Alegre, a empresa terá 60 dias para elaborar um plano de recuperação, que precisará ser aprovado pelos credores. O passivo, que engloba dívidas com bancos, fornecedores e funcionários, gira em torno de R$ 105 milhões.

Segundo o advogado Laurence Bica Medeiros, contratado há um mês pela Manzoli S/A Comércio e Indústria, razão social da Manlec, para elaborar o processo, a medida foi buscada como forma de dar fôlego à empresa. “Decidimos por essa solução para que a companhia possa pagar os seus credores, mas também continuar no mercado com mais força e de uma forma viável economicamente”, afirma. Com a decisão judicial, a Manlec terá seus débitos congelados por 180 dias. O montante, conforme Medeiros, estaria dividido em R$ 56,4 milhões devidos a instituições financeiras, R$ 39,8 milhões a fornecedores e R$ 9 milhões de passivo trabalhista. Dívidas fiscais, que não foram precisadas pelo advogado, não entram no processo.

Na semana passada, mais de uma centena de funcionários foi demitida pela empresa. Enquanto Medeiros afirma que a medida atingiu 117 colaboradores, o diretor executivo do Sindicato dos Empregados no Comércio de Porto Alegre (Sindec), José Américo Cordeiro, estima em 135 o número de dispensados, sendo 70 deles apenas em Porto Alegre. O corte, de acordo com Cordeiro, teria sido justificado pela Manlec como uma adequação ao novo momento, mantendo apenas o quadro mínimo necessário para a operação de suas unidades.

Embora não tenham recebido nenhum valor devido, como admite o advogado, os demitidos tiveram suas rescisões homologadas junto ao sindicato como forma de possibilitar o acesso deles a direitos como o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e o seguro-desemprego. Pelo processo de recuperação judicial, porém, eles terão prioridade no pagamento, com um período máximo de um ano para a quitação.

“Ingressaremos até o final da semana com uma medida cautelar para que seja feito o arresto de um imóvel em Porto Alegre, como forma de garantir que não seja leiloado”, conta o diretor do Sindec. Já o advogado da Manlec garante que o bem, um terreno localizado em Porto Alegre e que seria o único imóvel em nome da empresa – todas as suas unidades seriam locadas –, já consta no processo e, portanto, já estaria penhorado para garantia dos pagamentos.

Segundo Medeiros, não estão previstas novas demissões. “A intenção é não diminuir o quadro atual, de 495 empregados. A empresa quer manter a atividade, e está fazendo de tudo pra ter a sua margem de mercado”, justifica. No entanto, Medeiros não descarta a hipótese de venda de parte ou da totalidade da companhia. “A venda não está no planejamento, mas a empresa está aberta a qualquer forma de recuperação que possibilite a sua viabilidade”, comenta.

O advogado também afirma que a dificuldade financeira da rede teria se agravado nos últimos dois anos por situações de mercado, como o aumento da concorrência, que teria levado a empresa a diminuir suas margens de lucro, e a retração da economia, com o aumento da inadimplência. A rede, que começou como uma fábrica de móveis em 1953, está presente atualmente em 18 municípios gaúchos.



Veículo: Jornal do Comércio - RS