Casino, controlador do Grupo Pão de Açúcar, prevê reforçar suas atividades imobiliárias no Brasil com a criação de centros comerciais nas áreas dos hipermercados. A ideia é alugar espaços a lojistas variados, como o grupo controlado por Jean-Charles Naouri faz na França.

"Queremos acentuar um pouco as atividades imobiliárias no Brasil. Há um potencial de desenvolvimento de centros comerciais ao redor dos hipermercados que é significativo no país. Por enquanto isso ainda não foi feito. Vamos, sem dúvida, criar inicialmente pequenas galerias comerciais, e logo passar para as de médio porte e, depois, no prazo de alguns anos, ter centros comerciais maiores", disse Naouri, ontem, ao anunciar os resultados do grupo em 2012.

No mercado francês, a área dos hipermercados vem sendo regularmente reduzida, para dar lugar a outros tipos de lojas, formando centros comerciais.

Os planos para o Brasil incluem ainda expandir o segmento de lojas de conveniência em grandes cidades e a divisão de vendas online, além de acelerar o desenvolvimento da rede de atacado Assaí. "Pensamos que é preciso expandir as lojas de conveniência no Brasil. Em megalópoles como São Paulo, é evidente que esse tipo de loja tem grande futuro. Começamos a fazer isso há pouco tempo no Brasil e desejamos desenvolver e acelerar a criação dessas lojas de conveniência", disse Naouri.

Sobre a internet, o empresário afirmou que "é muito importante liderar o comércio on-line no Brasil. Atualmente, somos o segundo do mercado e tentaremos conquistar a primeira posição", disse o empresário. O primeiro lugar pertence à B2W, que reúne marcas como Lojas Americanas e Submarino.

Naouri prevê que o crescimento das atividades internacionais irá continuar neste ano e que o faturamento do grupo deverá registrar novo "forte aumento" em 2013. Na França, a previsão é de estabilização do mercado. "Estamos muito confiantes", disse Naouri.

Outro motivo de otimismo: o Casino também deverá finalizar neste ano a compra da fatia de 50% do Monoprix que pertence à Galeries Lafayette. E poderá integrar totalmente em suas contas a rede de supermercados de bairro mais rentável do grupo na França, que registrou crescimento de 1,7% nas vendas em 2012.

Na França, o Casino entrou de sola na guerra de preços que vem sendo travada no varejo. Naouri afirmou que o grupo francês, que registrou queda de 0,8% nas vendas na França em 2012, irá continuar sua estratégia ofensiva de preços baixos, sobretudo nos hipermercados, onde o faturamento caiu 7,7% em 2012.

Até então, o Casino estava relativamente ausente da guerra publicitária lançada há meses por outras varejistas, como o Carrefour, com sua lista de "500 produtos mais baratos de grandes marcas" e o reembolso do dobro da diferença se o consumidor encontrar um artigo mais em conta, além de campanhas agressivas, que apontam os preços maiores dos rivais.

No atual "cenário de consumo pouco dinâmico" na França, como diz Naouri, os hipermercados Géant Casino lançaram no início deste mês uma grande campanha afirmando garantir os preços mais baixos de 3 mil "produtos do cotidiano". O grupo também promete reembolsar dez vezes o valor da diferença para quem encontrar um artigo mais barato no concorrente. Em janeiro, também já havia sido anunciada uma redução nos preços de 5 mil produtos de grandes marcas vendidos nas lojas Géant.

Naouri reconheceu que os preços praticados pelos hipermercados do grupo na França estavam desatualizados há anos - ou seja, havia margem para cortes. "Essa estratégia de preços menores vai continuar em 2013 com os produtos de grandes marcas", disse.

Mas preços menores não são a única ação do grupo para conter a erosão nas vendas na França. O grupo irá acelerar também a expansão dos supermercados de bairro (Monoprix, Franprix/Leader Price, supermercados Casino), que já representam 56% do faturamento do grupo na França, e também irá aumentar a oferta de unidades de "drive-thru", onde os clientes retiram compras feitas pela internet, disse Naouri. Atualmente, o grupo tem cerca de 90 "drive-thru" na França. A grande maioria funciona na área dos hipermercados.

Naouri também quer reforçar a sinergia entre as lojas e a sua filial de vendas online, a Cdiscount, que registrou expressivo crescimento de 16,3% nas vendas na França em 2012. A ideia é aumentar o número de lojas onde as compras feitas no site Cdiscount podem ser retiradas. Essa interação, segundo o presidente do Casino, "é o caminho do futuro".

A França é o único país desenvolvido onde o grupo atua. E, pela primeira vez na história do Casino, as vendas nos países emergentes (Brasil, Colômbia, Tailândia e Vietnã) ultrapassaram mais da metade (56%) do faturamento do grupo, de quase € 42 bilhões em 2012 (crescimento de 22,1% em relação ao ano anterior). Esses países já totalizam 66% do resultado operacional do grupo, que ultrapassou também pela primeira vez a faixa de € 2 bilhões e cresceu 29,3%.

"A França representa hoje apenas uma parte minoritária do faturamento e de nosso resultado operacional", ressaltou Naouri.

Segundo ele, o grupo poderá ampliar sua presença em outros mercados emergentes da América Latina. "Acreditamos que a Colômbia possa ser uma plataforma de desenvolvimento nos países hispânicos. Não excluímos movimentos táticos em países da América Central realizados a partir dessa filial", afirmou Naouri, descartando, no entanto, a possibilidade do grupo francês se instalar em países como a China ou a Índia. Mas nenhuma nova implantação internacional está prevista neste ano, disse o presidente. "Veremos após 2013."



Veículo: Valor Econômico