O Carrefour irá abrir uma loja de alto luxo com restaurantes no templo gastronômico de Paris, a praça de Madeleine, famosa por suas vitrines que dão água na boca. É ali, onde estão as centenárias Fauchon e Hédiard, e também a Maison do Caviar e a das Trufas, que o grupo varejista deve inaugurar no início de 2014 um espaço de 3,5 mil m² que já está sendo chamado de "novo empório do sabor" pela imprensa francesa.

A nova loja "gourmet", cujas obras devem começar em junho, terá três andares. No supermercado, no subsolo, a apresentação dos artigos e também a decoração serão mais sofisticadas do que em uma loja tradicional do grupo. Produtos orgânicos e a marca própria de alimentos regionais do Carrefour, a "Reflets de France", e também uma grande adega terão destaque no local.

No térreo, haverá um grande espaço de produtos frescos, que podem ser levados para casa ou consumidos ali mesmo. Nesse local, estão previstos estandes de degustação (um deles, por exemplo, será de culinária japonesa), inspirados nos modelos já existentes em grandes lojas de departamentos, como na Harrod's, em Londres, na KaDeWe, em Berlim, ou ainda na Lafayette Gourmet em Paris, da Galeries Lafayette. No terceiro e último andar haverá restaurantes, abertos até meia-noite.

O Carrefour, porém, prefere não associar seu nome ao novo local, que irá se chamar "Les Halles de la Madeleine". O grupo confirmou ao Valor a inauguração e o modelo da loja na praça da Madeleine, mas informou que não fará comentários sobre os motivos de não utilizar a bandeira Carrefour ou sobre possíveis outras lojas do tipo.

Para analistas, a segunda maior rede de supermercados do mundo não quer associar diretamente seu nome ao segmento de luxo. Isso poderia ter impacto negativo justamente no momento em que a empresa tenta reverter a imagem de ter preços mais altos do que os dos rivais. Nos últimos meses, o Carrefour lançou na França, seu maior mercado, uma verdadeira guerra publicitária em relação aos seus preços, comparando-os com os praticados pela concorrência.

"O novo projeto do Carrefour é apenas uma loja e não representa uma estratégia global de se posicionar no alto luxo. Acho que será uma experiência única, que não deverá se repetir", disse ao Valor Pierre-Edouard Boudot, analista especializado em varejo do Banco Natixis. Segundo ele, o Carrefour "aproveitou uma oportunidade imobiliária" em Paris. A nova loja será construída em um antigo estacionamento na praça.

A varejista, aliás, já possui em Bruxelas, na Bélgica, há alguns anos uma loja mais sofisticada, a Rob, e também optou por não usar a bandeira Carrefour.

Outro ponto favorável para o Carrefour é que o setor do luxo, incluindo o da alta gastronomia, vem ignorando a crise na França e tem tido desempenho melhor do que o do varejo em geral. Graças em boa parte aos turistas, que lotam as butiques de grifes, também na área de alimentos, como a Fauchon e a Hédiard, e restaurantes elegantes em Paris.

Para Gildas Aitamer, analista da Planet Retail, "é provável que a nova loja permita ao Carrefour ampliar sua experiência no merchandising de produtos premium", que poderá depois ser implementada em supermercados e hipermercados em áreas mais nobres.

O Carrefour vem tentando recuperar fatias de mercado na França, que sofreram erosão nos últimos anos. Em meados dos anos 2000, a participação do Carrefour no país se situava entre 24% e 25%. Hoje, ela é em torno de 20%.

O grupo vem apostando na ampliação do número de supermercados de bairro para aumentar suas vendas. A milésima loja desse tipo foi inaugurada em dezembro na França, onde a varejista totaliza mais de 4,5 mil lojas.

A loja no elegante bairro da Madeleine, numa área de forte poder aquisitivo em Paris, é um dos raros projetos do ex-presidente do Carrefour, Lars Olofsson, que tiveram continuidade na gestão do novo CEO, Georges Plassat, no cargo há sete meses.



Veículo: Valor Econômico