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13/08/2012 12:51 - Uma novela de R$ 8 bilhões

Esse é o valor a que Abilio Diniz teria direito se o Casino aceitasse antecipar sua saída do grupo; mas os franceses não vão pagar nem a metade e não pretendem ceder a Viavarejo na negociação

Conflitos começaram em 2011, quando O Casino se sentiu traído por oferta feita ao Carrefour


Quarenta dias após entregar o comando do Grupo Pão de Açúcar à rede francesa Casino, o empresário Abilio Diniz abriu negociação para antecipar sua saída da companhia, num movimento que pode criar uma nova disputa bilionária no maior grupo varejista da América Latina.

Para sair já do negócio, Abilio quer sua parte em dinheiro -estima-se que a cifra chegue a R$ 8 bilhões.

Os franceses não querem pagar nem a metade disso.

Para eles, a participação do brasileiro não bate em R$ 4 bilhões, considerando os 20% na holding que controla o Pão de Açúcar, avaliados pelo mercado entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão.

O problema para Abilio é que o Casino está com a faca e o queijo na mão: tem o controle, um contrato e um acordo de acionistas a seu favor.

Desde que decidiu comprar o Grupo Pão de Açúcar, em 2005, a rede francesa fechou um contrato com o brasileiro, estipulando a entrega do controle da companhia em junho deste ano e a transferência de parte das ações, no próximo dia 22 -o que marca a tomada do controle acionário pelo Casino.

PRIMEIRA ETAPA

Na semana passada, o empresário anunciou, como prevê o acordo, que venderá os 2,4% que possui na holding, chamada Wilkes. O Casino tem de pagar US$ 10,5 milhões, à vista, até o dia 24. Uma vez efetivada a venda, o Casino assume o controle societário na Wilkes.

Dar esse passo foi necessário para Abilio poder vender todas as outras ações da Wilkes numa segunda etapa, em 2014, e, assim, sair da empresa. Se não fizesse isso, ficaria amarrado à companhia, com assento vitalício no conselho de administração.

A Folha apurou que o empresário, porém, não quer esperar até 2014 para vender o restante das ações. Para deixar a holding antes, o "acordo de saída" precisa ser substituído por outro.

EM NEGOCIAÇÃO

Abilio quer sua parte na companhia em dinheiro, mas até aceita receber como parte do pagamento a Viavarejo, empresa do segmento eletroeletrônico do Grupo Pão de Açúcar. Mas os franceses não querem abrir mão dela.

Para o Casino, a Viavarejo é parte relevante do negócio, porque assegura a liderança na distribuição do varejo no país, algo garantido pelas Casas Bahia -que faz parte da Viavarejo, ao lado do Ponto Frio.

O conflito entre a rede e Abilio começou no ano passado, quando o empresário foi acusado de "trair" o Casino ao negociar a compra do Carrefour no Brasil à revelia dos franceses. O negócio diluiria a participação dos franceses na holding e eles não conseguiriam assumir o controle do grupo em junho.

Desde então, as relações entre Abilio Diniz e Jean-Charles Naouri, presidente do Casino, ficaram abaladas e as conversas só foram retomadas efetivamente após a transferência do comando.

NOVO EMBATE

Abilio não se afastou da rotina de trabalho e marca posição para manter as regras de gestão da companhia.

O primeiro embate na nova administração começou no final do mês passado com a escolha de Christophe Hidalgo para o cargo de diretor financeiro do grupo. O executivo trabalhava na subsidiária do Casino na Colômbia.

Nos bastidores, diz-se que ele foi escolhido pelo próprio Naouri sem ter passado pelo diretor de recursos humanos, contrariando uma prática "secular" da companhia.

Além disso, naquele momento, houve um embate em torno do plano de retenção de executivos, proposto pelo Casino. Para Abilio, a política de governança estava sofrendo um golpe, porque o plano foi aprovado sem ter regras de distribuição de prêmios previamente definidas.

Os franceses negam ter havido qualquer tipo de "golpe". Em relação aos bônus, dizem que o plano teve regras definidas, após sua aprovação. Afirmam que Hidalgo foi uma indicação de Naouri, mas que seu nome foi aprovado no comitê de recursos humanos e no conselho de administração.

Procurados, Abilio e o grupo Casino não quiseram se pronunciar.



Veículo: Folha de S.Paulo

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