Por Wagner Hilário*
O novo presidente da Abras, Fernando Teruó Yamada, conta sua história profissional como empresário de varejo, líder classista e diz o que pretende fazer pelos supermercadistas de todo o País de janeiro de 2013 a dezembro de 2014. Confira!
Nascido em 1954, em Belém do Pará, Fernando Teruó Yamada é o primeiro presidente nortista da Abras. Não é preciso muito tempo de conversa com ele para constatar que lhe sobram qualidades, vocação e experiência para exercer o cargo. Mas antes de falarmos do presente, vale a pena conhecer sua trajetória profissional e associativista até a presidência da Abras.
Yamada é engenheiro civil de formação. “O engenheiro precisa pensar e executar rapidamente suas ideias, ele não pode perder tempo com divagações, tem de escrever em uma página o que outros profissionais podem escrever em 50. Essa capacidade de executar uma ideia, um pensamento com objetividade, a engenharia me deu.”
Mas não foi na engenharia que ele deu seus primeiros passos como trabalhador nem seria nela que trilharia sua trajetória profissional de sucesso, embora considere que esta formação tenha sido fundamental.
“A primeira loja de magazine Yamada foi fundada pelo meu pai e pelo meu avô em 1950. Eu comecei a trabalhar em 1965 [aos onze anos], pois na minha família havia a prática de se trabalhar nas férias. Eu estudava [o estudo sempre foi prioridade para os Yamada] e, nas
férias, eu dava expediente nas lojas em dezembro. Assim, eu operei caixa, arrumei prateleira, embalei, preenchi ficha, emiti nota fiscal... Eu sei fazer quase todas as funções do chão de loja.”
Durante a faculdade de engenharia, cursada na Universidade Federal do Pará (UFPA) — Yamada também tem MBA em Gestão —, ele se distanciou provisoriamente do varejo. Nos últimos anos do curso, trabalhou em construtoras. “Consegui estágio nas melhores construtoras de Belém na época. Na minha família, sempre acreditamos que, para aprender a fazer bem algumas coisas que não são nossa especialidade, é importante trabalhar para outras pessoas mais experientes e com mais conhecimento na área.”
Yamada aprendeu muito nesse período e, mais maduro e experiente, foi chamado a voltar para o varejo. “Eu voltei para ajudar meu pai a tocar a empresa com um olhar diferente. Minha função era criar processos que melhorassem a eficiência operacional da loja, porque até então a operação se dava muito na base do improviso, da intuição. Como eu havia estudado, coube a mim levar ciência à operação. Meu dia a dia na empresa era estruturar processos e controles.”
Porém, Yamada faria muito mais. Além de gestor, o executivo também sempre foi hábil do ponto de vista político, o que o levou a cumprir o papel de relações públicas da empresa. Ainda muito jovem, começou a atuar no antigo Clube de Diretores Lojistas (hoje Câmara dos Dirigentes Lojistas) do Pará e, aos 33 anos, chegou à sua presidência, o mais jovem na história da instituição. Pouco tempo depois, sua habilidade nesse campo o levou a ser secretário de Indústria e Comércio do Estado do Pará. “Trabalhei como secretário por dez meses e aprendi muito sobre relações políticas. Tive a chance de ver como funciona o estado. Essa experiência me permitiu ampliar consideravelmente meu trânsito na esfera público-privada. A essa altura, minha empresa ainda não trabalhava com supermercados.”
Foi justamente para implantar a operação supermercadista na rede de magazines da família que Fernando Yamada deixou o cargo no governo estadual, em 1991. Porém, encontraria muito mais do que um novo ramo de atividade no varejo. “Começamos com uma seção de mercearia em nossa loja matriz e fomos aos poucos criando um supermercado dentro da loja.”
O rápido crescimento da empresa no ramo supermercadista não passou despercebido aos olhos dos líderes associativistas do setor. Em 1995, pouco tempo depois de inaugurar o primeiro supermercado, Yamada foi convidado para assumir a presidência da Associação Paraense de Supermercados (Aspas), onde pôde exercitar todas as suas habilidades como gestor, engenheiro e líder empresarial. Ele ficou nada menos que 13 anos na presidência da entidade, de 1995 a 2002 e de 2006 a 2012.
“Quando entrei para a Aspas, vivi a grande mudança na minha vida na área de varejo. Tive a oportunidade de conhecer convenções, feiras e lojas em outros lugares do mundo; pude assistir a palestras que me trouxeram muita informação. Descobri um universo de conhecimento que fez toda a diferença para o setor supermercadista do Pará”, afirma Yamada.
Além de criar a SuperNorte, feira supermercadista e o maior evento empresarial da região, com 15 anos completados em 2012, Yamada colocou os supermercados do Pará no rol dos melhores do Brasil. Naturalmente, houve também dividendos para sua empresa. Hoje, a rede Yamada tem 36 lojas. O autosserviço alimentar existe no grupo Yamada há 20 anos, mas já responde por praticamente 50% da sua receita. Nesse período, o grupo cresceu dez vezes. Em janeiro de 2012, inaugurou seu primeiro atacarejo e deve ampliar para cinco a quantidade de lojas neste formato em 2013.
Na presidência da Aspas, Yamada estava praticamente dentro da Abras. Foi na gestão de Paulo Feijó (1994 a 1996) que ele foi convidado a integrar a diretoria da associação nacional. De lá para cá, o executivo sempre esteve entre os diretores da Abras, participando ativamente do fortalecimento da instituição e do aprofundamento da relação dela com os órgãos públicos e privados.
Sua atuação e os serviços prestados ao setor em âmbito estadual e nacional o credenciaram a assumir a presidência da Abras, mas ele não vê essa oportunidade apenas como o coroamento e o reconhecimento de tudo o que já fez pela entidade e pelo setor. Vê a oportunidade como chance de retribuir tudo o que recebeu do sistema Abras, e pretende fazer isso partilhando o conhecimento e as informações — que têm feito sua empresa crescer há 20 anos — com supermercadistas de todos os cantos do País, sem exceção.
Saiba mais sobre os objetivos de Yamada à frente da entidade e sobre suas ideias em relação ao setor e o País nesta Exclusiva.
1-O que significa ser presidente da Abras para o senhor?
Fernando Yamada: É um orgulho chegar à presidência da entidade máxima do setor supermercadista depois de ter galgado todos os degraus do seu associativismo. A atividade varejista que mais me dá prazer é o supermercadismo. É a que eu mais gosto. A integração do setor, por meio da Abras e das estaduais, e a maneira como esse sistema promove conhecimento ao empresário do ramo em todo o País é algo que me agrada e me enche de orgulho fazer parte dessa estrutura. Agrada-me muito o compromisso do setor com a compreensão da natureza do cliente, seu esforço para entendê-lo e atendê-lo da maneira mais científica possível. Esse interesse pelo consumidor é algo muito forte no setor. Ele está sempre em busca da melhor e mais eficiente operação para atender as demandas dos consumidores. A vocação dos supermercados é esta: a busca ilimitada pelo conhecimento da natureza e do comportamento do consumidor. Isso é feito naturalmente. A Abras é a principal representante do setor no País e por consequência a principal representante dessa vocação. Estar na direção de uma entidade de vanguarda, como é o caso da Abras, é o mesmo que fazer um PhD [doutorado], tamanho o aprendizado que recebemos.
Eu tenho aprendido muito sobre meu negócio por causa da Abras e tenho procurado agregar à entidade o que há de melhor em mim. Tenho feito isso desde que passei a atuar nela, há quase 20 anos. A verdade é que não há como você receber tanto de uma entidade sem dar a contraparte, e eu tenho procurado dar a minha contraparte desde sempre. Vale salientar ainda a importância da Abras na aproximação e na parceria com os fornecedores. Acho que poucos setores varejistas têm relação tão fraterna e produtiva com os fornecedores quanto os supermercados. A história de que para um ganhar, outro tinha que perder acabou na relação entre fornecedores e supermercadistas há muito tempo, e a Abras cumpre papel fundamental nessa mudança de mentalidade.
2-O senhor assume a entidade, mas obviamente teve um antecessor. Qual foi o maior legado que o presidente Sussumu Honda deixou para a sua gestão?
Yamada: O maior legado deixado pelo Sussumu foi fazer da Abras, que sempre foi muito importante do ponto de vista institucional aos olhos da iniciativa privada e pública, uma entidade ainda mais importante e altamente influente. A Abras se faz presente em todos os níveis de governo [federal, estadual e municipal] e poderes [Legislativo, Executivo e Judiciário]. Então, o aumento considerável e representativo da importância da Abras na sociedade brasileira, em decisões importantes de políticas públicas para o País, é inegável e fruto do trabalho do Sussumu. Se um supermercadista não tiver orgulho da Abras é porque não está participando da entidade, mas quem participa sabe que ela é muito importante para o setor. Prova do que digo é que, antigamente, a Abras ia atrás dos órgãos governamentais para participar da solução de problemas relativos ao setor, ao consumidor, à sociedade. Hoje, esses órgãos vêm atrás de nós, eles procuram a Abras, muito em função do que eu lhe disse, de que a entidade se preocupa com o consumidor de fato e os órgãos governamentais reconhecem a preocupação da Abras com o cidadão. As entidades públicas têm o dever de promover o bem dos cidadãos e, por saberem que a entidade estuda, se dedica, se preocupa e entende o cidadão, como consumidor, elas nos procuram.
3-Quais são os principais desafios e metas para a Abras na sua gestão?
Yamada: A Abras é início ou meio, mas não é fim. O fim são as estaduais, que estão mais próximas dos supermercados, responsáveis por executar, de fato, o conhecimento gerado pela entidade nacional. Então, a minha proposta é tornar os canais de comunicação e transmissão de conhecimento da Abras mais abrangentes e eficazes do que já o são, de modo a servir todas as associações estaduais do País igualmente com o que há de mais novo no mundo dos supermercados. Em outras palavras, todos os nossos esforços, investimentos e ações serão no sentido de tornar a Abras uma fonte confiável de atualização e geração de conhecimento para as estaduais, de maneira a colocar nossos supermercados, não apenas os de grande porte e os dos grandes centros, mas os de todo o País e principalmente os pequenos, do Oiapoque ao Chuí, na vanguarda do supermercadismo internacional, tornando-os exemplo, ainda mais destacável, de atendimento e serviço ao cidadão. Vamos ampliar e amplificar o que foi feito durante a gestão Sussumu Honda, dando ainda mais relevância ao setor e à entidade aos olhos dos governos, dos poderes públicos e da sociedade brasileira. Esse é um projeto natural, porque é a vocação da Abras. Eu sei disso porque como supermercadista associado à entidade estadual sempre fiz uso dos serviços da Abras. Eu sei do que ela é capaz porque me beneficiei dos seus atributos. Eu aprendi muito com a Associação Paraense e, se a Abras agir de modo a fortalecer as associações estaduais de todo o País, com o potencial que tem, tenho certeza de que terá valor inestimável. A experiência na Aspas, na Abras e nos 20 anos como operador de supermercados me deixaram um rico legado de conhecimento e eu quero estender esse legado a empresários do ramo espalhados por todo o País. O trabalho da Abras tem de ter cada vez mais capilaridade, tem de ir a todos.
4-O senhor pretende criar mais canais de contato e fluidez desses conhecimentos para os supermercadistas, além dos que já existem?
Yamada: Os meios, como Portal Abras, SuperHiper e comitês, já estão aí, e são fundamentais, mas é necessário saber se as informações que eles levam, que disseminam, estão chegando. Se a informação chega, a gente descobre se ela tem qualidade ou não com base no retorno dos supermercadistas. Se não estiver boa, corrigimos. Se for boa, temos de nos preparar para o aumento da demanda. O comitê jurídico é um bom exemplo de interação com a base dos associados supermercadistas. A demanda dos supermercados é intensa. O fato é que não adianta fazer um grande trabalho, ser inovador e diferente, se esse trabalho não chega a quem deve chegar, a quem realmente precisa e vai usufruir dele. Então, o objetivo é aperfeiçoar o que temos. A gestão anterior sempre buscou isso, mas esse trabalho nunca acaba e é sempre possível aprimorá-lo. É isso o que faremos.
5-O que o senhor imagina que a Abras possa proporcionar, na prática, a outros supermercados do País?
O que proporcionou a mim. Eu lhe disse que ao entrar no sistema Abras, o mundo se abriu. É esse mundo que quero revelar a mais supermercadistas. O conhecimento que ela me trouxe tem relação estreita com a força da rede Yamada, uma rede local que não deixa a desejar a grandes companhias internacionais. Ao contrário, tem magazine, supermercado e atacarejo. Entrega inúmeras opções de formas de compra aos clientes. Eu quero que haja mais redes locais fortes em todos os cantos do País, e conhecimento é indispensável para se chegar a isso. Além do mais, o consumidor quer empreendimentos locais, quer players da sua terra competindo fortemente no mercado. Faz bem para o ego e para a autoestima da população local. Os clientes gostam disso, gostam de poder dizer que não precisam buscar no exterior certos produtos porque varejistas conterrâneos oferecem. A pior coisa para um varejista nacional é ouvir que o cliente precisou viajar para comprar fora porque aqui não tínhamos. Isso deixa a gente chateado; é chato não poder satisfazer o anseio dos clientes.
6-Do ponto de vista macroeconômico, quais são os maiores desafios do Brasil para os próximos anos?
Yamada: O mundo está em crise financeira porque o setor financeiro é um dos pilares da economia internacional e passa por um momento ruim. Como muitos países dependem demais do crédito para o estímulo ao consumo e à produção, o crescimento está comprometido, é o caso da Europa. [Há países que têm no crédito mais de 100% do PIB; o Brasil hoje tem no crédito 40% dele.] O Brasil ainda não é tão dependente do crédito, embora estejamos caminhando nesse sentido e cada vez mais o mercado de consumo se beneficie disso. Em grande medida, o poder de compra do brasileiro cresceu por causa da maior oferta de crédito ao mercado consumidor. Além disso, a massa salarial e a renda média do trabalhador brasileiro cresceram nos últimos anos, sem contar a grande quantidade de pessoas que não consumiam e passaram a consumir por conta de programas de distribuição de renda. Mas há um problema; não no crescimento do consumo, da renda, do crédito etc., mas na falta de contrapartida da indústria. Há um desequilíbrio entre crescimento de consumo e produção no Brasil. A indústria brasileira não está acompanhando o desenvolvimento do nosso mercado de consumo e quem se beneficia desse crescimento não acompanhado pela indústria nacional é a indústria internacional que preenche um espaço aberto. Ou seja, há um caminho, uma oportunidade para a indústria nacional ocupar e, se ocupar, melhor ainda para o mercado interno, mais empregos gerados, mais renda, mais consumo, etc...
7-Mas o senhor acha que isso pode prejudicar o desempenho econômico brasileiro no curto prazo?
Yamada: Não. O consumidor brasileiro é muito parecido com o norte-americano. Somos consumistas, gostamos de consumir muito, não somos como franceses e japoneses que consomem pouco. Além disso, há um novo grupo de pessoas no mercado de consumo e eles querem consumir muito. Os novos consumidores sonhavam com essa possibilidade e ela agora existe. Também estamos num momento favorável do ponto de vista demográfico. A geração mais populosa da história do País está na idade economicamente ativa, vivemos o bônus demográfico. Quer dizer: é impossível não crescer e é impossível o brasileiro não consumir. É necessário se preparar para dar infraestrutura e abastecer essa demanda, o que cabe ao governo principalmente, mas também em certa medida à iniciativa privada. Em resumo, não vamos parar de crescer tão cedo e os supermercados têm de estar atentos às tendências e perfis de consumo [vide o sucesso de formatos que até pouco tempo atrás não existiam, como o atacarejo].
8-Quais são hoje as principais tendências de consumo no mercado brasileiro?
Yamada: O consumidor brasileiro está aprendendo a consumir com mais qualidade e está cada vez mais exigente. Então, o que se vê são os brasileiros comprando produtos saudáveis, produtos com diferenciais, mais benfeitos, mais eficientes, enfim, produtos com maior valor agregado e essa é uma oportunidade e tanto para os supermercados e também para as indústrias investirem em produtos mais qualificados. E não se trata aqui de maior poder aquisitivo. Estou dizendo que produtos de qualidade estão cada vez mais demandados porque o brasileiro está aprendendo a consumir o que tem qualidade, ele tem descoberto que vale a pena fazê-lo por causa do custo-benefício. Claro que a melhor condição financeira ajuda e muitas vezes é o estímulo que faltava para o cliente provar o produto, mas há uma mudança de mentalidade que torna o consumidor brasileiro mais exigente do que era, independentemente da classe econômica a que pertença. A dona de casa mais simples consumia o que havia de melhor qualidade entre os produtos que obrigatoriamente faziam parte da cesta dela, itens de limpeza, alguns alimentos básicos... Agora, ela também está aprendendo a consumir alimentos “novos” e de mais qualidade, que antes quase não tínhamos à disposição no mercado, a exemplo de bebidas, carnes, equipamentos, etc. Isso é muito bom e é fruto da maior educação para o consumo do brasileiro. A educação é mais importante para o consumo de qualidade do que o poder aquisitivo. Não é o poder aquisitivo que faz o consumidor optar por esses produtos, é a educação. O que tem impacto na rentabilidade do setor é a educação para o consumo.
9-Além da educação para o consumo, existe a educação formal. A primeira tem mais a ver com o consumidor e, a segunda, com o colaborador. Como o senhor enxerga a educação formal hoje no País?
Yamada: Do ponto de vista da educação formal-acadêmica, ainda estamos muito atrasados, ainda deixamos muito a desejar. É por isso que há uma preocupação muito grande dos governantes e empresários do País em relação à formação de líderes capazes de dar norte adequado ao Brasil, suas instituições e empresas. As pessoas têm acesso à escola, mas não saem formadas com qualidade. Então, quando falo que o brasileiro está mais educado é no âmbito do consumo, especificamente.
10- Para finalizar, há alguma mensagem específica que o senhor gostaria de transmitir ao mercado?
Yamada: Eu vou trabalhar para que a diretoria executiva da Abras e seus colaboradores enxerguem todos os estados da federação, enxerguem que somos um sistema federativo e que todos têm direito ao conhecimento. Se conseguirmos isso, será melhor para todos, inclusive para os fornecedores. O Brasil precisa de integração e descentralização, o que vale para todos os sistemas federativos. Com a Abras não é diferente.
*Wagner Hilário é subeditor da revista SuperHiper, publicação Abras.