*Rodrigo Sabatini
Os supermercados, com o Programa Lixo Zero, ganham em qualidade, organização, limpeza e também com a redução de custos de gestão
São inegáveis as grandes e rápidas mudanças que o mundo está passando, principalmente com a crescente preocupação social e ambiental, o que podemos chamar de uma revolução pelo aumento do nível de conscientização.
Nosso país, que tem um papel importante neste processo, quer por sua importância econômica, quer por seus recursos naturais, é considerado mundialmente um dos mais propícios para mudanças pró-sustentabilidade.
A Política Nacional dos Resíduos Sólidos ( PNRS), Lei 12.305, de 2 de agosto de 2010, pontua este momento de mudanças do comportamento da sociedade em relação ao consumo e aos resíduos gerados. Ou seja, é preciso mudar totalmente nossa compreensão em relação com aquilo que ainda se chama de LIXO, porque em sua maioria são resíduos recicláveis/reaproveitáveis.
Mas o que é Lixo Zero? Trata-se de um movimento que estabelece uma hierarquia de prioridades, estipula metas, e compartilha as responsabilidades, para que uma empresa ou organização evolua no destino adequados dos resíduos gerados. Uma sociedade Lixo Zero, como definido pela Zero Waste International Alliance, é aquela que cria condições de reaproveitamento de todos os resíduos, evitando o envio de materiais, considerados recursos, para aterros ou incineradores.
Aqui no Brasil, o Instituto Lixo Zero Brasil, membro da Zero Waste Internacional, foi criado especialmente para ser um impulsionador do uso desta metodologia.
E por que os supermercados devem se interessar em implementar o Programa Lixo Zero? Porque a PNRS responsabiliza as empresas geradoras pelo destino correto dos resíduos e, mais, deixa muito clara a responsabilidade compartilhada entre governo, indústria, comércio e cidadão. Pela PNRS, o varejista, além de participar dos sistemas de logística reversa - hoje em estudo tem de dar destino correto aos resíduos gerados dentro da loja, na operação antes do caixa.
Em 2010, a Associação Catarinense de Supermercados (ACATS) foi pioneira, criando a primeira experiência no conceito ZERO WASTE, aplicando-o no seu evento anual, a Exposuper, com um resultado surpreendente, com a adesão maciça de todos os participantes e com um resultado de 84% de encaminhamento correto de todos os resíduos (apenas 16% foi para o aterro). Na edição de 2013, o índice de reaproveitamento correto de resíduos chegou a 90%, estabelecendo uma cultura inovadora.
A partir desta experiência, a ACATS estabeleceu o Programa Supermercado Catarinense Lixo Zero 2020, em 2011, e incentivou a adoção por parte dos seus associados. Duas redes foram as pioneiras nesse projeto, uma empresa de pequeno porte, o Hippo, e a maior rede do estado, o Angeloni.
Hoje, esses supermercados cumprem com sua obrigação legal, determinada pela nova política nacional, pois ambos encaminham corretamente os seus resíduos. Os orgânicos seguem para compostagem, o que gera empregos, renda e faz uma função social, pois ajuda na recuperação de dependentes químicos (entidades parceiras do programa). Já os materiais recicláveis nas duas redes atingem índices de 90% de encaminhamento correto. Com a ação das duas redes são mais de 2000 toneladas a menos no aterro por ano, gerando uma economia de R$ 250 mil aos cofres municipais.
Mas os resultados são maiores nas próprias lojas, onde o programa gerou um aumento na qualidade, o que parece lógico uma vez que todos os dias os supermercadistas se esforçam em manter os seus estabelecimentos organizados, belos e limpos.
Melhor: houve uma diminuição das perdas e uma economia em torno de 10% na gestão dos resíduos. Além disso, todos os esforços são reconhecidos pelos seus clientes e pares e integram um conjunto de ações em prol da responsabilidade sócio-ambiental da organização.
O movimento lixo zero no mundo tem crescido em grande velocidade, através da adoção por parte de países, cidades, grandes indústrias e corporações (ver site www.zerowaste.org). No Brasil ele cresce, e tem exemplos de repercussão internacional, dado os índices atingidos em pouco tempo, de forma altamente eficiente e em breve deve crescer ainda mais com o apoio da Associação Brasileira de Supermercado (ABRAS), com ações programadas para 2014.
A história desta mudança está sendo escrita com o setor supermercadista e nos levará à construção de uma sociedade sem "lixo" e com resíduos reciclados/reaproveitados, propiciando o surgimento de uma economia circular, sem desperdícios, e, principalmente, calcada em valores sociais e ambientais.
*Rodrigo Sabatini é presidente do Instituto Lixo Zero do Brasil.